Enviados israelenses participam nesta sexta-feira (23) no Cairo em negociações indiretas para tentar obter uma trégua em Gaza e a libertação dos reféns sequestrados pelo Hamas, que governa o território palestino, devastado por mais de 10 meses de guerra com Israel.

As negociações acontecem uma semana após as conversações em Doha entre os mediadores dos Estados Unidos, Catar e Egito, o diretor do Mossad (a agência de inteligência externa de Israel), David Barnea, e o diretor do Shin Bet (a agência de segurança interna), Ronen Bar.

O porta-voz do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, Omer Dostri, afirmou na quinta-feira que Barnea e Bar já estavam no Cairo, onde "negociam para avançar em um acordo para libertar os reféns" sequestrados em 7 de outubro durante o ataque do Hamas no sul de Israel que desencadeou a guerra.

Dostri não informou quem participa das negociações na capital egípcia, mas a imprensa de Israel afirmou que há representantes de Washington.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, insistiu esta semana durante uma conversa por telefone com Netanyahu na urgência de alcançar um cessar-fogo em Gaza e obter a libertação dos reféns.

As negociações acontecem depois da nona viagem ao Oriente Médio do chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, que não conseguiu nenhum avanço concreto.

Além de deixar dezenas de milhares de mortos, a guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas em Gaza devastou o território e provocou um deslocamento em massa da população.

Testemunhas relataram nesta sexta-feira intensos disparos de artilharia em Khan Yunis e Rafah, no sul, e em Deir el Balah, no centro, onde uma criança ficou ferida em um bombardeio.

- "Evitar o rearmamento" -

Um correspondente da AFP também relatou confrontos no sul da Cidade de Gaza, no norte do território.

O Exército israelense afirmou ter "eliminado dezenas de terroristas e desmantelado dezenas de locais com infraestruturas terroristas" em Khan Yunis e Deir el Balah.

Durante as negociações em Doha, Washington apresentou uma proposta de trégua, mas o conteúdo não foi divulgado. Blinken anunciou que Israel aceitou o plano e pediu ao Hamas que fizesse o mesmo.

Mas as autoridades israelenses ainda não anunciaram publicamente sua aprovação à proposta americana, que o Hamas rejeitou devido às "novas condições" incluídas no plano.

O movimento islamista acusa o governo dos Estados Unidos de ter incluído "condições israelenses" à proposta, relacionadas em particular com a manutenção das tropas israelenses na fronteira de Gaza com o Egito (área conhecida como "corredor Filadélfia").

Netanyahu expressou sua determinação a manter as tropas israelenses nesta faixa de terra ao longo da fronteira, da qual as forças do país assumiram o controle em maio.

"O primeiro-ministro mantém o princípio de que Israel deve controlar o corredor de Filadélfia para evitar o rearmamento do Hamas, o que lhe permitiria voltar a cometer os horrores de 7 de outubro", afirmou seu gabinete nesta quinta-feira.

- "Interesses pessoais" -

A guerra eclodiu em 7 de outubro, quando militantes do Hamas mataram 1.199 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais. Entre os mortos, havia mais de 300 soldados.

Eles também fizeram 251 reféns, dos quais 105 permanecem na Faixa de Gaza, incluindo 34 que o Exército declarou mortos.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e iniciou uma ofensiva que deixou mais de 40 mil mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território, que não revela quantos são civis ou combatentes. 

Ao final da viagem, Blinken destacou que Washington se opõe a "uma ocupação a longo prazo de Gaza por Israel". 

O Hamas, considerado uma organização "terrorista" por Estados Unidos, Israel e União Europeia, exige a aplicação do plano anunciado em 31 de maio por Biden, com uma trégua de seis semanas, a retirada de Israel das áreas densamente povoadas e a libertação de reféns. 

Em uma segunda fase, o plano prevê a retirada total de Israel do território palestino.

Porém, após mais de 10 meses de guerra, alguns já não consideram uma trégua algo possível.

"Eu falo com tristeza. Não acredito que acontecerá (...) Todos estão motivados por interesses pessoais, tanto em Israel como em outros locais, e até mesmo entre os mediadores", lamentou Ran Sadeh, um israelense de 57 anos entrevistado pela AFP em Tel Aviv.

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