O chanceler de Honduras, Enrique Reina, afirmou, nesta quinta-feira (29), que o tratado de extradição com os Estados Unidos, que permitiu prender poderosos narcotraficantes, foi cancelado por seu país para evitar que seja usado como "arma política".

A presidente hondurenha, a esquerdista Xiomara Castro, surpreendeu na quarta-feira ao anunciar a denúncia do tratado, depois de acusar de "ingerência" a embaixadora em Tegucigalpa, Laura Dogu, em sua política em relação à Venezuela.

"Aqui pode estar neste momento sendo gestada uma tentativa de golpe de Estado" e o tratado de extradição "pode ser como [...] uma arma política nesse embate" contra o governo de Castro, disse Reina em um programa do Canal 5 de televisão.

Ele afirmou que a inteligência militar detectou após as declarações da embaixadora que um grupo de oficiais estava "conspirando" para dar "um golpe de quartel".

"Essas acusações que a embaixadora faz de praticamente ligar o ministro da Defesa [José Manuel Zelaya] e o chefe do Estado-Maior Conjunto [das Forças Armadas, general Roosevelt Hernández] com o narcotráfico, pode ser o passo de acusá-los para poder extraditá-los", acrescentou o chanceler.

A embaixadora havia criticado uma reunião de Zelaya, que é sobrinho da mandatária, e Hernández com o ministro da Defesa da Venezuela, general Vladimir Padrino López, sancionado pelos Estados Unidos, que o acusam de tráfico de drogas.

"Foi surpreendente para mim ver o ministro da Defesa e o chefe do Estado-Maior Conjunto sentado ao lado de um traficante de drogas na Venezuela", disse Dogu a jornalistas em Tegucigalpa.

Reina sentenciou que "a presidente foi clara: não permitirá que se desestabilize as Forças Armadas".

Cinquenta hondurenhos acusados de narcotráfico foram entregues desde 2014 aos Estados Unidos em virtude do tratado, vigente desde 1912.

O tratado foi considerado uma ferramenta-chave para desmantelar o "narco-Estado" que, segundo a Justiça americana, foi criado em Honduras sob o governo anterior do presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022).

O próprio ex-presidente de direita foi extraditado em 2022 após deixar o poder e foi condenado em junho em Nova York a 45 anos de prisão.

A decisão de Castro provocou fortes críticas contra o governo por desafiar Washington.

Depois de ser um aliado tradicional dos Estados Unidos, com o governo atual, Honduras se alinhou à Venezuela.

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