A Venezuela retomou o serviço elétrico na madrugada deste sábado (31), após um grande apagão de mais de 12 horas rotulado pelo governo como "sabotagem" da oposição em meio às suas denúncias de fraude eleitoral.
A falha teve origem na central hidrelétrica Simón Bolívar, principal geradora de eletricidade da Venezuela, na madrugada de sexta-feira. O país inteiro ficou na escuridão, revivendo o fantasma do enorme apagão de 2019 que durou em média cinco dias.
"Estamos normalizando, regularizando, passo a passo com garantias, com segurança", disse o presidente Nicolás Maduro na noite de sexta-feira, sem especificar detalhes para evitar, como explicou, um "contra-ataque": as interrupções de serviço são frequentes há uma década, especialmente na província.
Maduro costuma apresentá-las como planos da oposição para derrubá-lo, embora os especialistas falem de falta de investimento e manutenção no sistema elétrico e nas suas redes de distribuição.
A eletricidade começou a chegar a alguns estados após 12 horas de apagão, às 16h00 locais de sexta-feira (17h00 no horário de Brasília) e foi restabelecida em quase todo o país na manhã de sábado, segundo veículos de comunicação locais e moradores consultados pela AFP.
Em estados andinos como Mérida e Táchira, ou nos seus vizinhos Lara e Zulia, no oeste, assim como em Bolívar, no sul, há relatos de falhas em alguns setores.
Estas são regiões normalmente atingidas por cortes de energia diários prolongados.
"Em Michelena [Táchira], chegou por volta da meia-noite, tinha chegado no início da tarde, mas saiu e [voltou, e desde então] não faltou mais", disse Thais Hernández, dentista de 29 anos, à AFP.
A ONG VE Sin Filtro, que mede o nível de conexão à Internet no país, reportou 92,7% de conectividade na madrugada deste sábado.
O serviço de metrô de Caracas também foi totalmente restabelecido, segundo autoridades de transporte.
- 'Vingança' -
Maduro falou do "papai e mamãe de todos os ataques que foram feitos a Guri", como é popularmente conhecida a hidrelétrica, que leva o nome da cidade onde está localizada, no estado de Bolívar.
"Por trás disso está o planejamento estratégico, há muito dinheiro, muito dinheiro e se alguém disser um detalhe que não deveria ser dado, não seria a primeira vez que eles fariam um contra-ataque como fizeram da primeira vez em março de 2019", disse o presidente, que acusou os "fascistas", como classifica a oposição e os Estados Unidos, outro inimigo fixo.
O incidente ocorreu um mês depois das eleições de 28 de julho, nas quais Maduro foi reeleito para um terceiro mandato consecutivo de seis anos, até 2031, em meio a denúncias de fraude.
Ainda antes das eleições, o governo alertou para um possível "ataque" ao sistema elétrico para impedir o processo ou tentar ganhar poder político através de "manobras desestabilizadoras".
"É um ataque cheio de vingança, um ataque cheio de ódio que vem de setores fascistas", disse o governante chavista. "Peço justiça para os autores materiais e intelectuais deste ataque criminoso".
No radar: a líder da oposição María Corina Machado e o rival de Maduro nas eleições, Edmundo González Urrutia, para quem o presidente já pediu a prisão. Ambos estão escondidos.
González Urrutia, de 75 anos, foi intimado a comparecer na sexta-feira ao Ministério Público, que abriu uma investigação criminal contra ele. Esta foi a terceira intimação, mas ele não compareceu. Não está claro como ficou esse procedimento em meio ao apagão nacional.
ba/jt/mel/aa/rpr