A líder opositora María Corina Machado convocou manifestações para sábado (3) em "todas as cidades" da Venezuela, depois de se declarar na "clandestinidade", no momento em que aumentam as ameaças de prisão contra ela por suas denúncias de fraude envolvendo a reeleição do presidente Nicolás Maduro.

"Devemos permanecer firmes, organizados e mobilizados", disse Machado em vídeo divulgado nas redes sociais, sem explicar se participará da mobilização. "O mundo verá a força e a determinação de uma sociedade decidida a viver em liberdade", acrescentou.

Horas antes, em um artigo de opinião publicado no The Wall Street Journal, a opositora anunciou que "passou à "clandestinidade" por temer por sua vida e liberdade.

Machado reivindica uma vitória esmagadora de seu candidato, o diplomata Edmundo González Urrutia, e afirma ter provas para demonstrar o que considera ser um roubo nas eleições de domingo passado. 

"Nunca os deixarei sozinhos e vou sempre defender sua vontade! Viva a Venezuela", afirmou o diplomata de 74 anos, convocado para comparecer na sexta-feira ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), governista, que aceitou a solicitação de Maduro para "certificar" os resultados anunciados pela autoridade eleitoral.

Ele não revelou se comparecerá a o TSJ.

Machado e González Urrutia apareceram em público pela última vez na terça-feira, durante uma manifestação em Caracas ao lado de milhares de pessoas.

Protestos eclodiram em Caracas e outras cidades após a proclamação da vitória de Maduro na segunda-feira, os quais deixaram 11 mortos até o momento, segundo ONGs de direitos humanos.

O Ministério Público relatou mais de 1.000 detenções. 

Machado, em artigo publicado no WSJ,  pediu pelo "cessar imediato da repressão" nos protestos para alcançar "um acordo urgente que facilite a transição para a democracia".

Maduro responsabilizou Machado e González Urrutia pelos atos de violência durante os protestos e disse que os opositores "deveriam estar atrás das grades". "Vocês têm as mãos sujas de sangue", declarou o presidente.

- Candidatos convocados -

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não divulgou os resultados detalhados de domingo, segundo os quais Maduro foi reeleito com 51% dos votos contra 44% de González Urrutia. Enquanto isso, a pressão internacional por uma contagem transparente aumenta.

Machado lançou um site com cópias das atas de votação que, afirma, são "provas" da vitória da oposição, algo que o chavismo classificou como montagem. Maduro chamou de "fábrica de atas falsas".

A suprema corte convocou Maduro, González Urrutia e outros oito candidatos minoritários nas eleições a comparecer nesta sexta-feira para iniciar uma "investigação.

"Estarei lá, espero que todos os candidatos participem", declarou Maduro em um comício.

A oposição denunciou, durante os últimos meses da campanha, uma perseguição contra líderes antichavistas, com uma centena de detenções. "A maior parte de nossa equipe está escondida (...). Eu poderia ser capturada enquanto escrevo essas palavras", indicou Machado ao WSJ.

Seis dos colaboradores mais próximos de Machado, que não foi candidata após uma inabilitação política, estão abrigados na embaixada da Argentina, cuja proteção passou nesta quinta-feira ao Brasil, após a expulsão do pessoal diplomático argentino do país.

- Medo de delações -

Caracas retomou parcialmente sua normalidade. Os comércios começam a abrir e o transporte público volta a funcionar após dias de grande incerteza devido aos protestos que transformaram a capital em uma espécie de cidade fantasma.

"A vida está se normalizando, já há bastante gente na rua", indicou à AFP Reinaldo García, de 55 anos, no gigantesco bairro de Petare.

No entanto, o temor persiste. Em um edifício de um bairro de classe média, os moradores fazem sinais para se calar quando o assunto das eleições surge: temem ser delatados e presos.

Maduro ordenou um destacamento de segurança para evitar o que considerou um golpe de Estado por parte da oposição "fascista". O presidente até criou uma seção dentro de um aplicativo de programas sociais para denunciar "os criminosos que ameaçaram o povo" para "ir atrás deles".

As Forças Armadas, por sua vez, têm demonstrado sua posição de "absoluta lealdade e apoio incondicional" a Maduro, "legitimamente reeleito".

- "Evidência esmagadora" -

A reeleição de Maduro acendeu alertas no mundo, com apelos por maior transparência na apresentação dos resultados e o temor de que se repita uma nova onda migratória, aumentando a diáspora de 7,5 milhões de pessoas que, segundo a ONU, saíram do país desde 2014 para fugir da crise.

Os governos do Brasil, Colômbia e México, três países governados por presidentes de esquerda próximos a Maduro, exigiram nesta quinta-feira que as autoridades da Venezuela avancem "de forma expedita" na divulgação das atas eleitorais e permitam uma "verificação imparcial dos resultados" das eleições presidenciais de 28 de julho.

"Acompanhamos com muita atenção o processo de escrutínio dos votos e fazemos um chamado às autoridades eleitorais da Venezuela para que avancem de forma expedita e divulguem publicamente os dados desagregados por mesa de votação", assinalaram os governos em comunicado conjunto.

Porém, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, disse em um comunicado que há "evidência esmagadora" da vitória de González Urrutia, a quem reconhece como o vencedor das eleições venezuelana.

"Os Estados Unidos aparecem para dizer que a Venezuela tem outro presidente. Os Estados Unidos devem tirar o nariz da Venezuela, porque o povo soberano é quem manda na Venezuela", respondeu Maduro.

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