Analistas e ativistas discordam sobre as possibilidades que os oito opositores libertados pelo governo de Vladimir Putin terão para influenciar a política russa a partir do exílio, como parte de uma troca significativa de prisioneiros com o Ocidente.

Um dos libertados, Ilya Iashin, havia declarado em junho que não queria participar de uma troca eventual para que sua voz tivesse maior impacto em seu país.

"Discursos feitos em um café parisiense e em uma prisão russa não têm o mesmo peso político. Eu fiquei na Rússia para ser uma voz russa contra a guerra e a ditadura", escreveu em uma carta publicada pelo canal russo Dojd.

"Eu sinceramente acredito que um político russo deve estar na Rússia", para "compartilhar o destino de seu país e de seu povo", acrescentou.

Antes dele, com o mesmo argumento, seu amigo Alexei Navalny, figura central da oposição, retornou à Rússia depois de ser tratado na Alemanha por um envenenamento ocorrido em seu país em 2020.

Um retorno que foi fatal. Preso no aeroporto, foi submetido a condições de reclusão cada vez mais severas e morreu em uma prisão no Ártico em fevereiro. Com ele, desapareceu uma das vozes mais poderosas contra Putin.

Vários dissidentes que escolheram ou foram forçados a emigrar desapareceram gradualmente do espaço público. Eles não conseguiram unificar uma oposição conhecida por suas numerosas discordâncias, especialmente entre a equipe de Navalny e grupos como o do ex-oligarca que virou opositor Mikhail Khodorkovsky.

O cientista político Konstantin Kalachov considera improvável que a libertação dos oito opositores consolide o movimento.

"Há uma divisão entre os que partiram e os que ficaram. Se a troca fortalecesse a oposição, provavelmente não teria ocorrido", destacou em declarações à AFP.

- Importância da oposição -

Outros são mais otimistas e observam que entre os libertados estão opositores com vasta experiência e certa influência.

Vladimir Kara-Murza, antes de ser preso, estabeleceu numerosos contatos de alto nível, especialmente nos Estados Unidos, o que pode permitir a ele continuar seu trabalho de influência a favor de uma linha dura contra Moscou.

Também na lista está Oleg Orlov, um ativista de direitos humanos experiente e membro da ONG Memorial, laureada com o Prêmio Nobel da Paz em 2022.

Ekaterina Schulmann, cientista política russa no exílio, observa uma disparidade nos termos da troca de prisioneiros.

"A Rússia recuperou seus agentes que falharam, pessoas que não desempenharam bem seu trabalho e foram capturadas como espiões", afirma.

Em troca, libertou "pessoas com uma autoridade moral considerável, algumas com experiência política e renome na Rússia e no exterior", acrescenta.

"Se tiverem força e vontade, podem se tornar representantes notáveis do movimento russo contra a guerra [na Ucrânia], tanto para aqueles dentro quanto fora da Rússia e para governos ao redor do mundo", estima.

Schulmann também acredita que a oposição russa, ao garantir a libertação de vários de seus membros, ganhou reconhecimento no cenário internacional.

"O fato de os governos ocidentais terem utilizado seus recursos em negociações para salvar pessoas com as quais não têm ligação direta mostra a importância dos russos contrários à guerra para a comunidade internacional", destaca.

Para a cientista política, a equipe de Navalny, com a libertação de três de seus membros, demonstrou "capacidades sérias de lobby".

"É também um sinal para aqueles que estão na prisão e para aqueles que temem ser presos na Rússia de que, aconteça o que acontecer, não serão esquecidos", conclui.

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