O papa Francisco fez um apelo neste domingo (4) para que "busquem a verdade" na Venezuela, em meio a denúncias de fraude envolvendo a reeleição do presidente Nicolás Maduro, enquanto a líder da oposição, María Corina Machado, agradeceu o pedido de sete países europeus para que sejam divulgadas as atas de votação.

 

A manifestação do pontífice ocorre após pedidos dos Estados Unidos e de vários países da América Latina e da Europa para que sejam divulgadas as atas das polêmicas eleições presidenciais realizadas em 28 de julho. Os protestos contra a vitória de Maduro já deixaram pelo menos 11 civis mortos, segundo organizações de direitos humanos, e mais de 2.000 detidos.

 

 

"Faço um apelo sincero a todas as partes para que busquem a verdade, ajam com moderação, evitem qualquer tipo de violência, resolvam as controvérsias através do diálogo e tenham em mente o verdadeiro bem da população e não interesses partidários", disse Francisco para uma multidão, após a oração dominical do Angelus na Praça de São Pedro, no Vaticano.

 

Maduro foi confirmado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), alinhado ao governo, como presidente reeleito com 52% dos votos, contra 43% do opositor Edmundo González Urrutia, que concorreu no lugar de Machado, impedida pela justiça de ocupar cargos públicos. Com isso, o governante de esquerda assumiria um terceiro mandato, projetando-se para um total de 18 anos no poder.

 

 

No entanto, a oposição publicou em um site atas que dariam a González 67% dos votos.

 

A autoridade eleitoral ainda não divulgou resultados detalhados da votação e alegou que seu sistema foi alvo de um “ataque hacker em massa”. Maduro e altos funcionários desconsideram a validade dos documentos divulgados pela oposição.

 

"Compromisso com a democracia" 

 

Após reaparecer em público no sábado em uma manifestação em Caracas, depois de ter se declarado "na clandestinidade", a líder da oposição agradeceu neste domingo aos governos de Alemanha, Espanha, França, Itália, Países Baixos, Polônia e Portugal por seu "compromisso com a democracia", após o pedido desses países para que sejam divulgadas as atas da eleição presidencial da Venezuela.

 

No sábado, em uma declaração publicada pelo governo italiano, os sete países europeus expressaram "forte preocupação" e solicitaram às autoridades venezuelanas "publicar rapidamente todos os registros" das eleições para garantir a "total transparência".

 

 

"Em nome dos venezuelanos, agradeço este importante comunicado", escreveu Machado na rede social X. "Apoiamos a exigência de que se verifique o quanto antes, a nível internacional e independente, as atas que apresentamos", acrescentou.

 

Os Estados Unidos, que mantêm sanções financeiras contra a Venezuela para pressionar Maduro, também apoiaram a oposição ao afirmar que há "evidências esmagadoras" de uma vitória de González Urrutia.

 

Peru, Argentina, Uruguai, Equador, Costa Rica e Panamá também reconheceram González Urrutia como vencedor das eleições presidenciais.

 

Países como Brasil, Colômbia e México tentam promover um acordo político.

Rússia e China, por outro lado, apoiaram o presidente chavista.

 

"Guaidó 2.0" 

 

Diante de uma manifestação de apoiadores em frente ao palácio presidencial de Miraflores, Maduro denunciou no sábado que estava em andamento um plano para "usurpar" o poder.

 

"Não se aceitará, com as leis nacionais, que se tente usurpar novamente a presidência", advertiu Maduro, traçando um paralelo com o reconhecimento internacional recebido em 2019 pelo opositor Juan Guaidó, atualmente exilado nos Estados Unidos, após uma tentativa fracassada de retirar o governante socialista. O presidente venezuelano chamou González Urrutia de "Guaidó 2.0".

 

Guaidó, então chefe do Parlamento, foi reconhecido como "presidente interino" por Washington e por cerca de 50 de governos que consideraram fraudulenta a reeleição de Maduro em 2018, em eleições boicotadas pela oposição.

 

Machado, no entanto, intensificou seu desafio ao liderar a manifestação de sábado. González Urrutia, por sua vez, não participou do ato.

 

"Não vamos deixar as ruas", sentenciou a dirigente de oposição, que depois da marcha subiu em uma moto e desapareceu rapidamente rumo ao seu local de refúgio.

 

Maduro, que disse que Machado e González Urrutia deveriam "estar atrás das grades", comunicou a continuidade de "patrulhamentos policiais e militares" para "proteger o povo".


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