O governo britânico criticou na segunda-feira (5/8) os comentários de Elon Musk, postados no X, o antigo Twitter, de que "a guerra civil é inevitável" no Reino Unido.

Musk fez o post em resposta a um vídeo que mostra pessoas apontando fogos de artifício para a polícia.

A violência tem tomado as ruas do Reino Unido desde que um jovem de 17 anos atacou crianças com uma faca, matou três delas e feriu outras sete pessoas.

A polícia acredita que os protestos violentos foram alimentados por falsos rumores de que o suspeito era um muçulmano que foi ao Reino Unido em busca de asilo (leia mais abaixo).

A onda de agitação violenta e desordem em partes do Reino Unido continuou na noite de segunda-feira (5/8), quando a polícia foi atacada em locais como Belfast, Darlington e Plymouth.

Seis pessoas foram presas em Plymouth, enquanto vários policiais sofreram ferimentos leves, segundo a polícia de Devon e da Cornualha.

O porta-voz do primeiro-ministro Keir Starmer disse que "não há justificativa" para os comentários de Musk. Ele acrescentou que há mais coisas que as empresas de mídia social "podem e devem fazer".

Isso aconteceu depois que o primeiro-ministro declarou em uma reunião de emergência sobre os confrontos violentos em cidades do Reino Unido que as pessoas que incitam a violência na internet serão processadas.

"A lei se aplica também no ambiente digital, então se você está incitando a violência, não importa se é online ou offline", disse Starmer.

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Um carro da polícia foi incendiado em meio a protestos em Sunderland no sábado

O porta-voz do governo acrescentou que as empresas de mídia social "têm a responsabilidade" de garantir que atividades criminosas — inclusive de fora do Reino Unido — não sejam compartilhadas nas plataformas digitais.

"Claramente, vimos atividades de robôs e bots, muitos dos quais podem muito bem ser amplificados com o envolvimento de agentes de desinformação", disse o porta-voz.

Mas o governo britânico não disse quais países poderiam estar por trás do incentivo aos protestos violentos.

A secretária do Interior, Yvette Cooper, já havia dito que empresas de mídia social precisam agir contra a "desinformação chocante", os agitadores online e a "organização da violência".

Ela disse ao programa Today, da BBC, que as empresas de mídia social não estão agindo com rapidez suficiente para remover "material criminoso" após dias de protestos em várias partes do Reino Unido.

A BBC entrou em contato com as empresas X, Meta, TikTok e Snap para que elas pudessem comentar o assunto, mas não foram enviadas respostas até a publicação da reportagem.

Cooper também afirmou que as empresas de mídia social precisam "assumir a responsabilidade" pelas postagens online que incentivam atos criminosos.

"Houve uma [onda de] desinformação chocante que agravou a situação, mas também houve uma organização deliberada da violência", disse a secretária.

"Você não pode simplesmente permitir a disseminação de desinformação vinda de pessoas capazes de incitar e organizar a violência e não enfrentar as consequências disso."

Na lei do Reino Unido, os crimes relacionados ao incitamento da violência são anteriores à criação das mídias sociais. Esses artigos são detalhados na Lei de Ordem Pública de 1986. Eles incluem o ato de provocar violência e assédio, bem como participar de tumultos.

A Lei de Segurança Online, que foi aprovada em 2023, mas ainda não entrou em vigor, exigirá que as empresas de mídia social "tomem medidas robustas contra conteúdo e atividades ilegais", incluindo crimes "com agravamento racial ou religioso", bem como incitação à violência.

As ofensas criminais introduzidas pela nova lei incluem o envio de "comunicações ameaçadoras" pela internet e o compartilhamento de "informações falsas destinadas a causar danos não triviais".

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Manifestantes entraram em confronto com a polícia em cidades do Reino Unido nos últimos dias

Agitadores digitais

Cooper ainda disse que as empresas de mídias sociais falham ao não "reconhecer o impacto" dos agitadores digitais, que são autores de algumas postagens que incluem "coisas claramente criminosas".

"Há crimes que foram cometidos nas redes sociais para inflamar esses atos, incentivar e promover a violência", disse ela.

"Existem alguns temas em que as empresas de mídia social têm requisitos claros sobre a remoção de materiais criminosos e deveriam de fato tirá-los do ar, mas às vezes elas demoram muito para fazer isso", pontuou a secretária.

Para Cooper, as empresas "assumiram compromissos em torno de seus termos e condições que deveriam ser aplicados", mas as postagens que vão contra essas regras das plataformas não são removidas.

Ela disse que o governo estava buscando como fazer isso com as empresas de mídia social nesta semana.

Quando questionada especificamente sobre postagens feitas por Tommy Robinson, fundador do grupo anti-imigração Liga de Defesa Inglesa, Cooper disse que viu vídeos postados por "uma série de agitadores", mas não quis comentar sobre "peças individuais de material que podem muito bem estar sujeitas a uma investigação policial ou criminal".

O envolvimento das redes sociais

Anne Craanen, gerente sênior de pesquisa em política sobre extremismo do Instituto de Diálogos Estratégicos (ISD, na sigla em inglês), disse que a relação entre as atividades online e a violência no mundo real é "muito difícil de avaliar" — mas, em meio à recente onda de protestos, "a ligação entre as duas coisas é muito clara".

"As plataformas desenvolveram protocolos de resposta a crises para lidar com eventos terroristas com vítimas em massa, mas continuam a ter problemas com incidentes violentos que podem levar à desinformação e inspirar mais violência", analisa ela.

"No caso dos recentes eventos no Reino Unido, as plataformas não aplicaram seus próprios Termos de Serviço de forma adequada ou em tempo hábil."

Recentemente, o primeiro-ministro criticou o papel que as mídias sociais desempenharam nos protestos.

Na semana passada, Starmer fez menção às plataformas e "àqueles que as dirigem" para lembrar que "distúrbios violentos provocados na internet" são um crime.

Apenas três dias após os comentários do primeiro-ministro, Musk fez a postagem em que considerou uma guerra civil no Reino Unido "inevitável".

Os comentários de Musk atraíram reações iradas nas redes sociais. O satirista Armando Iannucci afirmou que o bilionário foi "enganado por sua própria plataforma, que amplifica o ruído às custas dos fatos".

Enquanto isso, Sunder Katwala, diretor do grupo British Future, disse que o post de Musk "espalha uma narrativa que é crucial para socializar pessoas com uma visão bastante extrema de tolerar a violência para proteger seu próprio grupo".

Katwala entende que o governo, o parlamento os órgãos de regulamentação precisam dar "respostas fortes" aos comentários de Musk.

Um porta-voz da Ofcom (a agência de regulamentação da comunicação no Reino Unido) disse à BBC que está "agindo rapidamente" para implementar a Lei de Segurança Online, para que ela passe a ser aplicada "o mais rápido possível".

"Quando entrar totalmente em vigor, as empresas de tecnologia terão que avaliar o risco de manter conteúdo ilegal em suas plataformas, tomar medidas para impedir que isso apareça e agir rapidamente para removê-lo", disse o porta-voz.

"Esperamos que a nova regulamentação entre em vigor por volta do final do ano. E regras adicionais sobre os serviços maiores passem a funcionar a partir de 2026."

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A polícia de Devon e da Cornualha disse que 150 policiais foram destacados para o centro da cidade de Plymouth

A onda de violência

Como mencionado anteriormente, a onda de agitação violenta em partes do Reino Unido continuou na noite de segunda-feira (5/8), quando a polícia foi atacada em Belfast, Darlington e Plymouth.

Seis pessoas foram presas em Plymouth, enquanto vários policiais sofreram ferimentos leves na violência, disseram a polícia de Devon e da Cornualha.

No sul de Belfast, na Irlanda do Norte, agentes da tropa de choque foram atacados com pedras e coquetéis molotov numa área perto de um supermercado que foi incendiado no final de semana.

Anteriormente, foi realizada uma vigília pacífica pelas vítimas do esfaqueamento em Southport, que originalmente serviu de gatilho para os protestos violentos. Quase 400 pessoas foram presas desde o início dos tumultos.

Em Southport, centenas de pessoas compareceram a um ato também pacífico para marcar uma semana das mortes de Bebe King, Elsie Dot Stancombe e Alice Dasilva Aguiar.

Crianças sopraram bolhas de sabão e pessoas de todas as idades deixaram flores e balões em forma de coração em memória das vítimas do ataque a facadas em um clube de férias cujo tema era a cantora Taylor Swift.

Desde então, a polícia de Merseyside disse que uma criança envolvida no incidente permanece no hospital, mas todos os outros pacientes já tiveram alta.

Axel Muganwa Rudakubana, da vila de Banks, foi acusado por três homicídios, dez tentativas de homicídio e posse de uma faca de cozinha.

O jovem de 17 anos, filho de pais ruandeses, nasceu em Cardiff, no País de Gales, e mudou-se para a região de Southport em 2013.

A polícia acredita que os tumultos e distúrbios que se espalharam por várias cidades britânicas foram alimentados por falsos rumores de que o suspeito era um muçulmano que foi ao Reino Unido em busca de asilo.

Esta reportagem foi criada e revisada por nossos jornalistas com o auxílio de IA na transcrição e tradução, como parte de um projeto piloto.

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