Mais de uma em cada dez mulheres relataram que foram estupradas em campos de deslocados de Goma, leste da República Democrática do Congo, segundo uma pesquisa publicada nesta terça-feira pela ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).
A região do leste do Congo, especialmente a província do Kivu do Norte, sofre há 30 anos com uma violência crônica que atingiu um pico nos últimos dois anos e meio com o ressurgimento da rebelião do M23, que assumiu o controle de amplas extensões de território e cerca a cidade de Goma, capital da província.
Centenas de milhares de deslocados estão em campos lotados e improvisados nos arredores desta cidade de mais de um milhão de habitantes.
"Entre as mulheres adultas de 20 a 44 anos, mais de 10% relataram ter sido estupradas nos cinco meses anteriores à pesquisa. Esse percentual chega a 17% em alguns campos", segundo a pesquisa da Épicentre, um centro de epidemiologia ligado a MSF, realizada entre novembro de 2023 e abril de 2024 em quatro campos a oeste de Goma.
"Os resultados desta pesquisa coincidem com o número extremamente alto de casos de violência sexual atendidos pelas equipes médicas da MSF nos diferentes campos de deslocados nos arredores de Goma", diz Camille Niel, coordenadora de emergência da MSF na capital provincial.
Esta violência também ocorre fora dos campos, onde "sobreviventes da violência sexual relatam que são atacadas por homens, muitas vezes armados, nas florestas e campos onde coletam lenha e alimentos para suas famílias", acrescenta.
Um acordo de cessar-fogo entre Kinshasa e os rebeldes M23 apoiados por Kigali entrou em vigor no domingo.
Isto não impediu que o M23 continuasse seu avanço e tomasse Ishasha, cidade na fronteira com o Uganda, nesse mesmo dia.
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