A Rússia lançou uma "operação antiterrorista" neste sábado (10) para conter uma incursão terrestre de tropas ucranianas que começou há cinco dias, e deslocou 76 mil habitantes da região fronteiriça de Kursk para "locais seguros".

As unidades ucranianas que entraram na terça-feira na região de Kursk avançaram vários quilômetros, segundo analistas independentes, na maior operação em território russo desde o início da ofensiva militar russa na Ucrânia, há dois anos e meio. 

A agência nuclear russa, Rosatom, informou que a incursão ucraniana representava uma "ameaça direta" a uma usina localizada a menos de 50 quilômetros da zona de combate. 

O Exército russo enviou mais tropas e armas para a região na sexta-feira, incluindo tanques, lançadores de foguetes e unidades de aviação, para tentar reprimir esta incursão surpresa. 

O Comitê Nacional Antiterrorista russo anunciou o início de "operações antiterroristas nas regiões de Belgorod, Bryansk e Kursk", todas fronteiriças com a Ucrânia, para "garantir a segurança dos cidadãos e suprimir a ameaça de ações terroristas promovidas por grupos de sabotagem inimigos". 

Esta medida confere às forças de segurança o poder de restringir a circulação, confiscar veículos, monitorar telefonemas, introduzir postos de controle e reforçar a segurança em infraestruturas essenciais.

O Comitê Antiterrorista acusou a Ucrânia de uma "tentativa sem precedentes de desestabilizar a situação em várias regiões" do país e afirmou que as tropas de Kiev feriram civis e destruíram prédios residenciais. 

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, indicou que as operações buscam "o deslocamento da guerra para o território do agressor", na primeira admissão direta do envolvimento do seu país nessa ofensiva. 

O Exército ucraniano informou uma redução no número de "confrontos" dentro da Ucrânia, um possível sinal de que a incursão na Rússia poderia estar servindo para aliviar a pressão em outros locais da linha da frente.

- 76 mil deslocados -

O Ministério da Defesa russo indicou que continua "repelindo" com recursos aéreos e de artilharia "a tentativa de incursão fronteiriça das Forças Armadas ucranianas". 

Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), centro de pesquisa sediado nos Estados Unidos, as tropas ucranianas avançaram até 13 quilômetros em território russo. 

Mais de 76 mil habitantes do oeste da região de Kursk foram levados "temporariamente" para "locais seguros", disse um representante do Ministério de Situações de Emergência da Rússia. 

As autoridades russas afirmaram na terça-feira que a incursão ucraniana deixou cinco mortos e 55 feridos entre os civis, mas desde então não divulgaram um balanço atualizado. 

Belarus, um aliado próximo da Rússia, mas não diretamente envolvido nas hostilidades, ordenou neste sábado o envio de tropas, unidades aéreas, sistemas de defesa antiaérea e foguetes para perto da sua fronteira com a Ucrânia. 

A diplomacia bielorrussa denunciou a operação ucraniana na Rússia nas redes sociais como uma "aventura sem sentido" e garantiu que vários drones ucranianos foram derrubados enquanto sobrevoavam Belarus, em um "incidente muito sério".

- 'A guerra em nosso país' -

O Exército russo confirmou na sexta-feira que os soldados ucranianos chegaram a Sudzha, uma cidade de 5.500 habitantes a cerca de dez quilômetros da fronteira e um ponto-chave para o transporte de gás para os países da União Europeia através da Ucrânia. 

Não se sabe qual é o avanço e a força das tropas ucranianas que participam na incursão e nenhum dos lados forneceu detalhes sobre o número de forças mobilizadas. 

O Exército russo havia dito inicialmente que a Ucrânia enviou quase 1.000 soldados e mais de vinte veículos blindados e tanques. Mas desde então afirmou ter destruído cinco vezes mais material militar. A AFP não conseguiu verificar estes números.

No leste da Ucrânia, que continua sendo o epicentro do conflito, pelo menos 14 pessoas morreram no bombardeio russo a um supermercado em Kostyantynivka na sexta-feira, segundo os serviços de emergência. 

Em outras partes do front, as autoridades ucranianas relataram três mortes na região de Kharkiv, no nordeste. 

Os Estados Unidos, o aliado mais próximo de Kiev, disseram que não foram informados dos planos com antecedência.

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