O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou nesta segunda-feira (12) ao Exército de seu país que "expulse" as tropas ucranianas, que em quase uma semana tomaram 28 localidades na região de Kursk, segundo as autoridades locais. 

Na última terça-feira, a Ucrânia lançou uma operação surpresa em grande escala nessa região fronteiriça, dois anos e meio após o início da ofensiva russa na ex-república soviética, após meses de retirada perante as forças de Moscou no front oeste. 

Este é o maior ataque de um Exército estrangeiro em território russo desde a Segunda Guerra Mundial. 

"Milhares" de soldados ucranianos participam da operação, declarou no domingo um alto funcionário da segurança ucraniana, com o objetivo de "ampliar as posições do inimigo, infligindo perdas máximas [e] desestabilizando a situação na Rússia". 

"A principal tarefa do Ministério da Defesa é, obviamente, expulsar o inimigo dos nossos territórios", declarou Putin nesta segunda-feira em uma reunião transmitida pela televisão. 

O Exército ucraniano pretende "semear a discórdia na nossa sociedade, intimidar as pessoas, destruir a unidade e a coesão da sociedade russa", disse Putin, acusando Kiev de "fazer a vontade" das potências ocidentais.

Até agora, as forças ucranianas assumiram o controle de 28 cidades da região de Kursk, reconheceu o governador em exercício, Alexei Smirnov, que participou na videoconferência. 

O responsável indicou que a operação ucraniana abrange uma área de 40 quilômetros de largura e 12 quilômetros de profundidade em território russo.

- Mais de 120 mil deslocados -

Estes números revelam a magnitude do ataque das forças ucranianas, embora o Exército russo tenha afirmado diariamente desde 6 de agosto que inflige grandes perdas aos ucranianos e que impede "tentativas de avanço". 

Segundo Smirnov, pelo menos 12 civis morreram e 121 ficaram feridos, "incluindo 10 crianças", na incursão ucraniana. 

As autoridades russas ordenaram nesta segunda-feira novas retiradas de civis nas regiões de Kursk e Belgorod, também na fronteira com a Ucrânia. 

"Até o momento, 121 mil" pessoas "deixaram ou foram retiradas" de Kursk, afirmou Smirnov. 

As autoridades de Belgorod também anunciaram evacuações de um distrito devido à situação "alarmante", apesar de os combates não terem chegado à região.

"Há atividades inimigas na fronteira do distrito de Krasnaya Yaruga", disse o governador Vyacheslav Gladkov no Telegram. 

"Pela segurança da vida e da saúde da nossa população, começamos a transferir" os habitantes daquele distrito, acrescentou. 

Em Moscou, a recepção de deslocados foi organizada há vários dias. 

"Nossos compatriotas estão sofrendo", disse à AFP Ivan, advogado de 31 anos que levou roupas para um centro de coleta. "Em tempos como este, temos que apoiar".

Daria Chistopolskaya, uma parteira de 28 anos, foi mais crítica em relação às autoridades: "O Estado não se preocupa o suficiente com estas pessoas e as pessoas deveriam se ajudar mutuamente nestas situações", considerou.

- "Negociações futuras" - 

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, admitiu no sábado pela primeira vez o envolvimento do seu país na incursão na Rússia, indicando que pretende "deslocar a guerra para o território do agressor".

O ataque à região de Kursk é a maior e mais bem-sucedida operação transfronteiriça ucraniana desde o início do conflito. 

As autoridades ucranianas instaram cerca de 20.000 civis na região de Sumy a evacuarem as suas cidades. 

A Rússia lançou a sua operação na Ucrânia em fevereiro de 2022 e desde então tem mantido uma ofensiva implacável, ocupando áreas do leste e do sul do país e submetendo as cidades ucranianas a ataques diários de artilharia, mísseis e drones. 

Analistas estimam que Kiev provavelmente lançou o ataque para aliviar a pressão sobre as tropas em menor número e desarmadas em outras partes do front.

Mas até agora, a incursão não enfraqueceu a ofensiva russa no leste da Ucrânia, onde Moscou ganha terreno há meses, disse o alto funcionário da segurança ucraniana, que pediu anonimato. 

O responsável garantiu que Kiev "respeita estritamente o direito humanitário" na sua ofensiva e que não tem intenção de anexar as áreas que ocupa atualmente. 

Admitiu também que a Rússia, mais cedo ou mais tarde, "deterá" o avanço das tropas ucranianas na região de Kursk, mas se "depois de um certo tempo não conseguir retomar esses territórios, eles poderão ser usados para fins políticos", por exemplo durante negociações de paz. 

"O inimigo busca melhorar a sua posição nas futuras negociações", estimou Putin nesta segunda-feira.

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