A Ucrânia declarou nesta terça-feira (13) que não deseja anexar nenhum território tomado durante a operação militar que as suas tropas lançaram há uma semana na região russa de Kursk e garantiu que cessará se Moscou aceitar uma "paz justa". 

As forças russas alegaram que haviam "atrapalhado" as "tentativas ucranianas de penetrar profundamente" nesta região fronteiriça, palco desde 6 de agosto do maior ataque de um Exército estrangeiro em solo russo desde a Segunda Guerra Mundial. 

"A Ucrânia não deseja anexar nenhum território da região de Kursk", declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores ucraniano, Georgiy Tykhy, durante uma coletiva de imprensa.

Desde fevereiro de 2022, a ex-república soviética enfrenta a invasão lançada por Moscou, que ocupa até 20% do território ucraniano, incluindo a península da Crimeia, anexada em 2014. 

Neste contexto, "as ações ucranianas são absolutamente legítimas, especialmente no marco do direito de legítima defesa contemplado na Carta das Nações Unidas", assegurou Tiji. 

"Quanto mais cedo a Rússia concordar em restaurar uma paz justa (…), mais cedo cessarão as incursões das forças de defesa ucranianas em território russo", acrescentou.

- Posições irreconciliáveis -

No entanto, as negociações entre Kiev e Moscou estão completamente bloqueadas devido à dificuldade de conciliar as exigências de cada parte. 

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse querer desenvolver um plano antes de novembro, data das próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos - um aliado vital de Kiev -, que serviria de base para uma futura cúpula de paz na qual o Kremlin seria convidado.

O seu homólogo russo, Vladimir Putin, impôs como condição para as negociações que Kiev cedesse os territórios ocupados pelo Exército russo e renunciasse à adesão à Otan, requisitos inaceitáveis para os ucranianos e as potências ocidentais. 

Na segunda-feira, o líder russo acusou a Ucrânia de realizar a operação em Kursk para "melhorar a sua posição em futuras negociações". 

Um alto funcionário disse à AFP no sábado, sob condição de anonimato, que se "depois de um certo tempo [a Rússia] não conseguir retomar esses territórios, eles poderão ser usados para fins políticos".

- Avanço sem precedentes -

Após uma semana de avanços sem precedentes, a Ucrânia afirmou na segunda-feira que controla 1.000 km2 de território russo. 

No entanto, segundo uma análise realizada nesta terça-feira pela AFP com base em dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), a Ucrânia controlava na noite de segunda-feira 800 km2 na região de Kursk, ou seja, 2,7% desse setor.

O governador regional russo, Alexei Smirnov, reconheceu que as forças ucranianas assumiram o controle de 28 localidades e indicou que a operação cobre uma área de 40 quilômetros de largura e 12 quilômetros de profundidade em território russo. 

Para efeito de comparação, a Rússia ganhou 1.360 km2 em território ucraniano desde 1º de janeiro de 2024, segundo cálculos da AFP baseados em dados do ISW. 

O Exército russo, que enviou reforços materiais e humanos, declarou nesta terça-feira que continua a infligir grandes perdas aos ucranianos na região de Kursk, de onde 121 mil pessoas já foram deslocadas.

Pelo menos 12 civis morreram e cem ficaram feridos na incursão ucraniana, segundo as autoridades regionais russas.

- Impulso à moral -

Em um campo verde na região ucraniana de Sumy, na fronteira com Kursk, um comandante das forças de Kiev descreveu a operação em curso como um incentivo à moral de um Exército com falta de homens e munições. 

"Não houve vitórias significativas na Ucrânia nos últimos meses. Apenas os russos estavam avançando", disse ele à AFP, enquanto as tripulações dos tanques ucranianos se preparavam para sua mobilização. 

Pelo menos 20 mil civis estão sendo retirados da região de Sumy e as restrições de deslocamento foram ampliadas para os moradores perto da fronteira. 

O alto funcionário da segurança ucraniano entrevistado pela AFP afirmou que "milhares" de soldados ucranianos participam da operação com o objetivo de "ampliar as posições do inimigo, infligindo perdas máximas [e] desestabilizando a situação na Rússia". 

O ataque em grande escala visa "deslocar a guerra para o território do agressor", declarou o presidente Zelensky. 

A operação ucraniana é um revés inesperado para o Kremlin, cujo Exército estava em vantagem desde o início da ofensiva.

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