Rich Logis é um homem arrependido. Durante sete anos foi apoiador incondicional de Donald Trump, comparecendo a seus comícios e atacando em meios de comunicação ultraconservadores quem não pensava como ele. Mas, em novembro, não votará no ex-presidente republicano, mas em sua rival, a democrata Kamala Harris.

Este empresário de 47 anos se envergonha agora de seu ativismo pró-Trump e se somou ao "Republicanos por Kamala Harris", um movimento lançado pela vice-presidente americana para atrair os moderados do partido conservador.

"Donald Trump colocou estranhos uns contra os outros. Destruiu comunidades, famílias, lares e locais de culto", diz Logis em entrevista em Miami, na Flórida.

Sua jornada de dentro do coração do movimento ultraconservador MAGA (baseado no slogan de Trump "Make America Great Again") para a campanha de Kamala é uma anomalia no polarizado cenário político americano.

Em 2015, Logis sentia, assim como muitos de seus compatriotas, que os partidos tradicionais não o representavam. A ascensão de Trump, um bilionário com discurso contra as elites, mudou tudo.

"Era a pessoa certa na hora certa, e me atraíam suas mensagens sobre a destruição da ordem política estabelecida", lembra.

Não demorou para que aderisse à campanha de Trump. Fez telefonemas, organizou grupos de apoio e começou a escrever artigos para meios digitais de extrema direita, onde se dedicava a "desumanizar" democratas e republicanos que não apoiavam o magnata.

- Primeiras dúvidas –

"Sentia que estávamos do lado certo de nosso país na luta contra o mal. Sentia que éramos os verdadeiros americanos contra os falsos americanos", afirma.

Em 2016, Trump venceu a democrata Hillary Clinton, símbolo da classe política mais tradicional, contrariando as pesquisas.

A vitória animou Logis a dedicar ainda mais tempo ao que considerava como sua segunda família, a comunidade MAGA.

As primeiras dúvidas chegaram em meados de 2021. Preocupado pelo aumento dos contágios de covid-19, o empresário começou a divergir da rejeição dos trumpistas às campanhas de vacinação e a outras medidas contra a pandemia.

Foi aí que resolveu fazer algo que não fazia há anos: consultar veículos de informação que estão fora da bolha de extrema direita.

Suas novas leituras o fizeram mudar de opinião sobre muitos assuntos, incluída a invasão do Congresso americano por seguidores de Trump, em 6 de janeiro de 2021.

Logis, que sempre havia minimizado a importância desse episódio, começou a comprovar sua violência e a questionar o fato de que Trump não o havia condenado.

Sua decepção com o bilionário foi crescendo enquanto este seguia defendendo, sem provas, que havia sofrido uma fraude eleitoral no pleito presidencial de 2020 contra Joe Biden, algo que Logis nunca acreditou.

Pouco a pouco, passou a ver o magnata como um perigo para a democracia.

- 'Esperança' –

Sua saída do movimento MAGA não foi simples. Pertencer a essa comunidade tinha se tornado grande parte de sua identidade e levou meses para romper com ela, mediante uma carta publicada na internet em agosto de 2022.

Desde então, tentou reparar o dano que diz ter feito como ativista pró-Trump. Este ano, criou o "Leaving MAGA" (Abandonando MAGA), uma comunidade para acolher quem havia abandonado o movimento ou hesita em fazê-lo.

"Já não considero inimigos aqueles com os quais não estou de acordo", diz sobre sua evolução. "Já não os vejo como traidores do país."

A última etapa de sua jornada política chegou há pouco, ao observar o entusiasmo gerado por Kamala, a ex-senadora de 59 anos que substituiu Biden como candidata democrata.

Atraído pela mensagem da vice-presidente e de seu companheiro de chapa Tim Walz, Logis se juntou à sua campanha como voluntário.

"Os americanos estão ávidos por esperança. E a candidatura de Harris e Walz está trazendo isso", garante. "Vemos alegria contra distopia. Uma campanha, a de Trump, que quer retroceder. E outra que quer mover o país adiante."

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