O governo da Colômbia reconheceu nesta terça-feira (20), como "organização independente", uma facção dissidente do Exército de Libertação Nacional (ELN), em meio à crise que afeta as negociações de paz com a guerrilha.
Desde o começo do ano, delegados do presidente de esquerda Gustavo Petro mantêm conversas em separado com o grupo Comuneros del Sur - uma divisão rejeitada pela cúpula original do ELN -, o que provocou uma crise, levando ao congelamento dos diálogos de paz iniciados em novembro de 2022.
"O diálogo com o GAO [Grupo Armado Organizado] Comuneros del Sur está mantido. Não há nenhum problema, pois essa frente se tornou uma organização independente e o ELN também os expulsou, de tal maneira que não há nada a solucionar", disse o comissário de paz Otty Patiño em entrevista à emissora W Radio.
O ELN considera que a aproximação com essa facção representa "um falso processo de paz regional" e busca "enganar a opinião [pública] dizendo que o ELN está dividido", segundo o seu comandante, Antonio García, em declarações difundidas na rede social X.
A Frente Comuneros del Sur é um dos obstáculos no processo de paz com o ELN, que está suspenso desde abril. Outra exigência da guerrilha para retornar ao diálogo é sua retirada da lista de grupos armados organizados.
O Exército retomou as operações ofensivas contra os rebeldes no início de agosto, quando o ELN rechaçou os apelos do governo, da ONU e da Igreja Católica para renovar uma trégua estabelecida desde agosto de 2023.
Na semana passada, a delegação de paz do governo expressou sua intenção de destravar as conversas, mas deixou a reativação do processo nas mãos da guerrilha.
"O ELN terá que assumir a responsabilidade pelo que está por vir", disse em entrevista coletiva o senador Iván Cepeda, delegado de paz de Petro com essa organização.
Primeiro presidente de esquerda na história da Colômbia, Petro tenta acabar com um conflito armado de seis décadas através do diálogo com as guerrilhas e outras organizações criminosas poderosas.
Na luta armada desde 1964, o ELN conta com cerca de 5.800 integrantes, segundo a inteligência militar colombiana. Apesar de possuir um comando central, suas frentes são autônomas no campo, o que, segundo especialistas, dificulta as negociações.
Inspirado na Revolução Cubana e na Teologia da Libertação, o ELN manteve negociações de paz com cinco governos anteriores, mas sem conseguir chegar a acordos definitivos.
O conflito interno na Colômbia já provocou 9,5 milhões de vítimas em mais de meio século.
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