O presidente da França, Emmanuel Macron, recebeu nesta sexta-feira (23) os líderes da coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP), na primeira de suas complexas consultas políticas para nomear um novo governo quase dois meses após as eleições legislativas.
A França está em um limbo político desde as eleições de 30 de junho e 7 de julho, nas quais a NFP ficou em primeiro lugar, com 193 dos 577 cadeiras da Assembleia Nacional (Câmara Baixa), mas longe da maioria absoluta de 289.
"Estou disposta a construir coalizões, a debater com as demais forças políticas para tentar encontrar um caminho para garantir a estabilidade do país e responder às necessidades urgentes dos franceses", disse a candidata da esquerda ao cargo de primeira-ministra, Lucie Castets, após o encontro.
A NFP, formada por socialistas, comunistas, ecologistas e pelo partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI), pede a Macron que confie ao bloco a formação do governo, mas não há garantia de que o presidente de centro-direita tomará esta decisão após a série de reuniões no Palácio do Eliseu, em Paris.
Ao contrário dos países vizinhos, onde o poder dos chefes de Estado é mais protocolar, a França tem um regime semipresidencialista desde 1958 e Macron, que tem mandato até 2027, compartilha o poder Executivo com o governo, que pode ser de outra tendência política (a "coabitação").
Embora seja o único nome apresentado, Macron se recusou a designar Castets, que enfrentaria a ameaça de uma rápida moção de censura da centro-direita e da direita radical, e pediu a seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, que continuasse no cargo até os Jogos Olímpicos de Paris.
A recusa em nomear "um primeiro-ministro de uma coalizão que ficou em primeiro lugar" é semelhante a "um golpe de Estado", declarou o líder comunista Fabien Roussel. O chefe de Estado "deve aceitar sua derrota", acrescentou o líder da LFI, Manuel Bompard, antes do encontro.
- Maioria difícil -
Alcançar a maioria absoluta será difícil na nova Assembleia Nacional. Além da NFP, a aliança de Macron conseguiu a eleição de 166 deputados, seguido pelo partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados (142) e pelo partido de direita tradicional Os Republicanos (LR, 47).
Além disso, a esquerda e o RN querem revogar a reforma previdenciária, uma das principais políticas de Macron. Nenhum partido quer uma aliança com a extrema direita e o LR, que apoiou o governo Macron em seus projetos cruciais na legislatura anterior, rejeita um governo de coalizão.
Porém, a pressão aumenta sobre o presidente de 46 anos, que provocou uma onda de choque na França com a inesperada antecipação das legislativas, previstas inicialmente para 2027, ao pedir um "esclarecimentos" aos eleitores após a vitória do RN nas eleições europeias.
Macron não pode dissolver novamente a Assembleia até julho de 2025, mas a apresentação do orçamento para o próximo ano, que deve chegar ao Parlamento em outubro, estabelece um prazo limite para a substituição do atual governo interino.
A líder ecologista Marine Tondelier, que criticou "uma forma de obstrução", pediu ao presidente uma decisão "até terça-feira", após as consultas nesta sexta-feira com os aliados de Macron e o LR, e na segunda-feira com a extrema direita de Marine Le Pen e Jordan Bardella.
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