O governo do socialista Pedro Sánchez enfrenta uma alta expressiva da chegada de imigrantes irregulares à Espanha, principalmente às Ilhas Canárias, que se sentem abandonadas por Madri e pela Europa.

Os guardas costeiros não passam um dia sequer sem relatarem a chegada de pelo menos uma embarcação precária transportando dezenas de imigrantes africanos ao arquipélago canário, situado frente à costa noroeste do continente africano.

Diante dessa situação, Sánchez realiza uma viagem de terça (27) a quinta-feira por três países de onde partem muitos dos imigrantes: Mauritânia, Gâmbia e Senegal.

A Mauritânia tornou-se o principal ponto de saída de imigrantes. Segundo uma fonte da presidência do governo espanhol, o país abriga cerca de 200.000 refugiados vítimas da instabilidade no Sahel, entre eles muitos malineses, potenciais candidatos a seguir para as Canárias.

Espera-se que Sánchez ofereça ajuda a esses países — em particular à Mauritânia, que ele já visitou em fevereiro — para incentivá-los a fazer todo o possível para impedir as saídas.

O presidente regional das Canárias, Fernando Clavijo, pediu à União Europeia que assuma suas responsabilidades, para que a região "não tenha que suportar sozinha toda a pressão migratória da Europa", pois esses imigrantes "chegam à Europa, chegam à Espanha, não chegam apenas às Canárias".

As Canárias, e em geral a Espanha, são frequentemente apenas uma escala no caminho para outros países europeus.

- Recorde pode ser superado -

22.304 imigrantes chegaram às Canárias entre 1º de janeiro e 15 de agosto deste ano, em comparação com os 9.864 do mesmo período do ano passado, um aumento de 126%. Para o conjunto da Espanha, o aumento é de 66,2% (de 18.745 para 31.155), segundo cifras oficiais.

Previsivelmente, a tendência de alta aumentará até o final do ano, devido à melhoria das condições de navegação nesta área do Atlântico.

O recorde de 39.910 chegadas registrado no ano passado pode ser superado, o que confirma que a rota para as Canárias se tornou a principal de imigrantes para a Espanha, apesar de sua extrema periculosidade, que provoca a morte de milhares deles a cada ano.

Mas as Canárias não são a única região do sul da Espanha afetada pelo fenômeno. Ceuta, um enclave espanhol na costa norte de Marrocos, também registrou um forte aumento de chegadas nas últimas semanas.

Ceuta e Melilla, o outro enclave espanhol, são as duas únicas fronteiras terrestres da UE com o continente africano.

Nessas áreas, o problema mais urgente é o dos menores imigrantes que chegam desacompanhados, cuja situação tem importantes implicações para a política interna.

- "À beira do colapso" -

Na Espanha, os imigrantes irregulares adultos estão sob a jurisdição financeira do Estado central, mas os menores de 18 anos são responsabilidade exclusiva das regiões.

Por isso, as regiões espanholas situadas na linha de frente estão sobrecarregadas com a explosão do número de menores imigrantes que precisam ser atendidos.

Nas Canárias, o governo regional acolhe 5.100 menores estrangeiros, enquanto a capacidade de seus centros é de apenas 2.000 pessoas. A situação é semelhante em Ceuta.

As Canárias estão "à beira do colapso", afirmou Clavijo em uma entrevista publicada nesta segunda-feira pelo jornal El Mundo, alertando para "uma hecatombe" se a situação piorar.

Para resolver o problema, o governo de Sánchez tentou que o Parlamento votasse em julho uma emenda à lei de imigração, com o objetivo de conceder ao governo central o direito de distribuir menores estrangeiros entre todas as regiões do país.

Mas a oposição de direita e extrema direita, assim como o partido do independentista catalão Carles Puigdemont, evitaram que a proposta legislativa fosse discutida.

Clavijo obteve de Sánchez na sexta-feira apenas a renovação, para este ano, de uma ajuda estatal de 50 milhões de euros (R$ 309 milhões), mesmo valor recebdo em 2022 e 2023, mas distante dos 150 milhões de euros (R$ 926 milhões) que ele diz ter dedicado desde o início do ano à situação dos imigrantes.

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