O presidente francês, Emmanuel Macron, rejeitou, nesta segunda-feira (26), nomear como primeira-ministra a candidata de esquerda em nome da "estabilidade institucional" e convocou uma nova rodada de consultas com partidos e "personalidades" para superar o bloqueio político.

"Um governo baseado apenas no programa e nos partidos propostos pela aliança com maior número de deputados, a Nova Frente Popular, seria imediatamente censurado" na Assembleia (Câmara baixa), ressaltou, em um comunicado, o mandatário francês, que retomará as consultas na terça-feira.

Macron causou comoção na França com a antecipação das eleições legislativas, previstas para 2027, para 30 de junho e 7 de julho para pedir um "esclarecimento" aos eleitores após a vitória da extrema direita nas eleições europeias.

Mas este cenário mergulhou a França em um impasse político, pois nenhum dos três principais blocos surgidos das eleições - esquerda, centro direita e extrema direita - obteve a maioria de 289 deputados. Um novo pleito não pode ser convocado antes de julho de 2025.

A NFP, formada por socialistas, comunistas, ecologistas e o partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI), venceu as eleições com 193 deputados e propôs como primeira-ministra a economista Lucie Castets, de 37 anos.

A aliança de centro direita de Macron, por sua vez, elegeu 166 deputados, seguida do partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados (142) e do partido de direita tradicional Os Republicanos (LR, 47).

Na sexta-feira, quase dois meses após as eleições, Macron iniciou uma rodada de consultas com os partidos e, em virtude destes encontros, considerou que "a estabilidade institucional" da França "impõe não reter esta opção" de Castets, diz a declaração.

"O presidente acaba de criar uma situação excepcionalmente grave. A réplica popular e política deve ser rápida e firme", escreveu na rede social X o líder do LFI, Jean-Luc Mélenchon, reiterando que vão apresentar uma moção para destituir Macron.

O líder comunista, Fabien Roussel, convocou uma "grande mobilização popular" nos "próximos dias", enquanto a ambientalista Marine Tondelier criticou a "perigosa irresponsabilidade democrática" de um presidente que, segundo ela, causou o bloqueio com o inesperado adiantamento eleitoral.

- "Circunstâncias excepcionais" -

Diferentemente dos países vizinhos, onde o poder dos chefes de Estado é protocolar, Macron, cujo mandato termina em 2027, compartilha o poder executivo com o governo, que pode ser de outra orientação política ("coabitação").

Cabe ao presidente nomear o chefe de governo. "Minha responsabilidade é garantir que o país não fique bloqueado ou se fragilize", assegura no comunicado, apelando aos "partidos de governo" a não esquecer "as circunstâncias excepcionais" do segundo turno.

Embora as pesquisas dessem como ganhadores a extrema direita de Marine Le Pen e seus aliados, a NFP e a aliança de centro direita de Macron retiraram seus candidatos com menos chances para favorecer aqueles que podiam derrotar a extrema direita.

A LFI participou desta "frente republicana" contra Le Pen, mas tanto a aliança de Macron quanto a direita em seguida rejeitaram que essa força integre um governo e inclusive ameaçaram, assim como Le Pen, votar uma moção de censura se isto não ocorresse.

E apesar de Mélenchon ter aberto a porta para que a LFI não entrasse em um eventual governo de Castets, seus adversários mantiveram a recusa ao garantir que o problema era o programa da coalizão, que inclui derrubar a impopular reforma das pensões de Macron.

Uma visão que coincide com a da Medchef, a principal central patronal. "O que nos preocupa não é a pessoa nem a composição do governo, mas o programa", garantiu à AFP seu presidente, Patrick Martin.

Macron ressaltou, em sua declaração, as convergências entre sua aliança de centro-direita e o partido de direita LR, que rejeita se aliar ao governo, e chamou socialistas, ecologistas e comunistas a "cooperarem com o restante das forças políticas", o que romperia a NFP.

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