O alemão Wolfgang Matthes pede um endurecimento da política migratória após o ataque com faca cometido por um sírio em Solingen; a residente de origem polonesa Vivienne Vetter atribui o incidente à chegada descontrolada de estrangeiros, enquanto o turco Kadir Ayten teme que o episódio possa acirrar ainda mais as divisões no país.

O ataque de sexta-feira (23), que deixou três mortos e oito feridos em uma festa popular nesta cidade do oeste da Alemanha, foi reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI) e intensificou o debate sobre a imigração, com o partido de extrema direita AfD à espreita antes das eleições regionais no próximo fim de semana.

Vetter, de 26 anos, que chegou à Alemanha ainda criança, lamenta que os imigrantes mais recentes "não aprendam alemão e se comportem de qualquer maneira".

"Nos tiram vagas em creches, lares de idosos, dinheiro, moradias", disse à AFP esta jovem que trabalha no setor de atendimento a idosos e tem dificuldade em encontrar um apartamento a preço acessível.

"Se eles se integrassem, não teria nenhum problema com isso", acrescentou Vetter, que mora a apenas alguns minutos a pé do local do ataque.

A jovem estava entre a multidão que assistiu à homenagem do chefe de governo Olaf Scholz no local do ataque.

Na véspera, duas manifestações opostas ocorreram no centro da cidade: uma da juventude do AfD e outra de opositores à extrema direita.

- Acalmar os ânimos -

Scholz, do Partido Social-Democrata, comprometeu-se a endurecer a política de imigração.

Já o prefeito da cidade, Tim Kurzbach, pediu calma.

"Não se trata apenas de Solingen, é sobre o nosso país", declarou.

Não é a primeira vez que Solingen, uma cidade etnicamente diversa com cerca de 160 mil habitantes, enfrenta tensões entre suas diferentes comunidades. Em 1993, jovens neonazistas incendiaram a casa de uma família de origem turca, matando três meninas e duas mulheres.

O suposto autor do ataque, que se entregou no sábado, é um sírio de 26 anos que chegou ao país em dezembro de 2022 e havia escapado de uma ordem de deportação.

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) reivindicou o ataque, afirmando que seu autor pretendia "vingar os muçulmanos da Palestina e de todos os lugares".

O suspeito, identificado como Issa Al H., estava alojado em um centro para refugiados próximo ao local do ataque que também abriga várias famílias ucranianas que fugiram da guerra com a Rússia.

- "Ponto de inflexão" -

Para Wolfgang Matthes, de 61 anos, o ataque marca um "ponto de inflexão no controle das pessoas que chegam ao nosso país".

"O governo deve endurecer sua política de asilo", destaca.

Assim como em outras partes da Europa, o aumento da imigração irregular se tornou um tema controverso.

Na Alemanha, a maior economia da Europa, o debate se intensificou no ano passado diante do aumento da imigração irregular.

Alguns moradores atribuem o ataque de sexta-feira a esse fenômeno, enquanto outros o consideram um incidente isolado e estão mais preocupados com as tensões que isso pode gerar.

"Este ataque não tem nada a ver com o islamismo", afirma Kadir Ayten, um taxista de 46 anos que vive na Alemanha há cerca de 20 anos e considera o ataque uma "imensa vergonha".

"Coisas assim podem dividir a sociedade. As pessoas terão mais medo dos estrangeiros", explica.

Resul Salihu, um sérvio de 18 anos que passou toda sua vida em Solingen, considera um erro culpar a imigração pela tragédia e "generalizar" sobre todas as pessoas que chegam à Alemanha.

"O medo motiva as pessoas e esse medo pode empurrá-las para [partidos] com políticas mais extremas", considera.

sr/mfp/jm/bc/js/jb/am

compartilhe