"Liam e Noel se desentenderam, a banda não existe mais". Entre assobios do público, um diretor do festival Rock en Seine de Paris anunciou com estas palavras a separação do grupo britânico Oasis no dia 28 de agosto de 2009.

A briga nos bastidores abriu 15 anos de uma guerra fria entre os irmãos Liam e Noel Gallagher, vocalista e guitarrista do grupo de "britpop". Um conflito que foi encerrado nesta terça-feira (27), com o anúncio do retorno aos palcos em 2025.

"Naquela época, a área VIP a que a imprensa tinha acesso ficava bem ao lado dos camarins, simplesmente separada por uma divisória de bambu. E em um certo momento, ouvimos barulhos estranhos, gente gritando, uma espécie de estrondo", recordou Olivier Nuc, repórter musical do jornal francês Le Figaro.

"Três minutos depois, vejo um dos organizadores correndo pela área VIP. Algo tinha acontecido. E então o boato começa a aumentar: o Oasis não vai se apresentar", contou.

A briga entre Liam e Noel começara no camarim. No meio do desentendimento, quebraram uma guitarra que em 2022 seria leiloada por 385 mil euros (R$ 2,1 milhões na cotação da época).

- "Um pouco de tristeza e um grande alívio" -

Salomon Hazot, um dos diretores pelo festival, sobe imediatamente ao palco com o microfone na mão para fazer um dos anúncios mais surreais da história do rock.

"Informo que, infelizmente, neste momento no Rock en Seine, Liam e Noel brigaram. A banda não existe mais. Vocês podem acessar o site do Oasis e Noel explicará sobre a briga e o fim de sua história com Liam", continua ele em meio ao protesto do público e gritos de "Não é verdade!", "É uma piada!".

Hazot, que também foi organizador dos shows da banda na França, teve que traduzir a mensagem para os 30 mil espectadores de língua inglesa que compareceram ao evento.

"Já estou cansada deles. Como podem tratar seus fãs desta forma?", lamentou na época Katie Even, uma advogada de 25 anos que gastou 500 euros (R$ 3.065 na cotação atual) para viajar de Dublin ao festival. 

Naquela mesma noite, Noel apresentou explicações no site do grupo.

"É com um pouco de tristeza e grande alívio que digo-lhes que estou deixando o Oasis. As pessoas vão escrever e dizer o que quiserem, mas é impossível continuar trabalhando com Liam por mais um dia. Minhas desculpas a quem comprou ingressos", afirmou o guitarrista e compositor da banda. 

O então diretor geral do festival, François Missonnier, foi então o responsável por dar explicações à imprensa: "Por motivos que desconhecemos, começou uma briga entre os dois irmãos. Noel foi embora do festival e ninguém conseguiu convencê-lo a voltar".

Anos depois, o então responsável pela comunicação e atual diretor do Rock en Seine, Matthieu Ducos, relembra estes momentos de confusão para a AFP. 

"Quando descobrimos que Noel havia saído do festival, achamos que era brincadeira", conta.

- "Festival amaldiçoado" -

Este não foi o primeiro fiasco do festival parisiense. Nas duas edições anteriores, a cantora britânica Amy Winehouse, que faleceu em 2011, cancelou suas apresentações de última hora. 

"O Rock en Seine, antes do Oasis, já começava a ter a reputação de ser um festival amaldiçoado", observa o jornalista musical Olivier Nuc. 

Mas para Ducos, o episódio do Oasis acabou contribuindo para esta lenda com "grandes shows memoráveis e ausências de grandes shows memoráveis". 

Para conter a polêmica, os organizadores pediram ao grupo britânico Madness, que já havia se apresentado, que subisse ao palco principal.

A resposta da banda foi: "Ok, quanto você nos dá?", diz Nuc. Na época, o jornal Le Parisien relatava "uma quantia de 120 mil euros, além dos 50 mil pagos pelo seu primeiro show". 

"Realmente, estamos arrasados com o que aconteceu com eles (...). Claro que não, não estamos nada arrasados", brincou Suggs, vocalista do Madness, no palco. 

Quinze anos depois e com os Gallaghers tendo alcançado a paz, pelo menos momentaneamente, o festival parisiense se candidatou a "receber o Oasis" em seu palco.

Seria "apoteótico um show de retorno como este", sonha Ducos.

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