O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) advertiu, nesta terça-feira (27), que a proximidade dos combates entre as tropas russas e ucranianas da central nuclear russa de Kursk é "extremamente grave".

"Uma central nuclear deste tipo tão próxima de um ponto de contato ou frente militar é algo extremamente grave", declarou o argentino Rafael Grossi após visitar a central de Kursk. 

Grossi indicou que pôde visitar "as partes mais importantes" da central, que fica a menos de 50 quilômetros da linha de frente. 

A infraestrutura funciona em "condições muito próximas das normais", observou. Mas justamente porque funciona, as consequências de um impacto podem ser "graves", sublinhou. 

"Pode parecer simples e de bom senso: não ataquem uma central nuclear", apelou. 

Desde o início da ofensiva militar russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022, a AIEA tem alertado repetidamente sobre os perigos dos combates perto de centrais nucleares. 

Grossi afirmou na segunda-feira que irá "avaliar de forma independente o que está acontecendo" na central, "dada a gravidade da situação".

Nos primeiros dias do conflito, as forças russas tomaram a central nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, e também ocuparam brevemente a central desativada de Chernobyl, no norte. 

A Ucrânia lançou um ataque surpresa a Kursk em 6 de agosto e afirma que as suas forças tomaram mais de uma centena de cidades em território russo. As forças russas, por sua vez, continuam a avançar para o leste da ex-república soviética. 

Na semana passada, o presidente russo, Vladimir Putin, acusou a Ucrânia de tentar bombardear a central nuclear de Kursk. 

A AIEA indicou que foi informada pela Rússia da descoberta de fragmentos de drones na quinta-feira, a cerca de 100 metros do depósito de combustível nuclear já utilizado pela central. 

Nesta terça-feira, Grossi disse que lhe foram mostradas "marcas de impacto" de drones.

A central de Kursk possui quatro reatores, dois deles em operação e dois em construção. 

Os quatro reatores são do mesmo tipo dos da central nuclear ucraniana de Chernobyl, sem cúpula de proteção.

Em 1986, um reator de Chernobyl explodiu durante um teste de segurança fracassado, resultando no pior acidente nuclear do mundo, quando a Ucrânia fazia parte da agora dissolvida União Soviética. 

"A possibilidade de um incidente como o de Chernobyl, com o reator explodindo e queimando durante dias, é zero", disse Robert Kelley, ex-diretor de inspeções da AIEA. 

No entanto, uma bomba ou um grande ataque de artilharia contra tanques de armazenamento de combustível usado poderia liberar gases e partículas radioativas, disse ele.

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