A oposição da Venezuela protesta nesta quarta-feira (28), um mês após a questionada reeleição do presidente Nicolás Maduro, que blindou seu gabinete com um homem forte à frente da ordem pública.

Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos nas eleições de 28 de julho, que a oposição liderada por María Corina Machado denuncia como fraudulentas e afirma ter provas de que seu candidato Edmundo González Urrutia venceu. 

Machado e González estão escondidos, embora a participação da líder seja esperada na marcha como fez em convocações anteriores. 

A promotoria abriu uma investigação criminal contra ambos, enquanto Maduro pede sua prisão. Ele os culpa pelos atos de violência nos protestos pós-eleitorais, que deixaram 27 mortos – dois deles militares –, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos. 

O chavismo também convocou uma mobilização na quarta-feira para "celebrar" a vitória de Maduro, não reconhecida por Estados Unidos, União Europeia e vários países da região. 

O dia de protesto também ocorre um dia após Maduro nomear Diosdado Cabello, considerado o número dois do chavismo e linha dura, para chefiar o Ministério do Interior, responsável pela polícia e pela ordem pública.

"Ele sabe muito sobre a paz, sabe muito sobre justiça e liderou os primeiros passos da revolução judicial", disse Maduro no discurso em que anunciou mudanças em metade do seu gabinete. 

Cabello, um deputado de 61 anos, assume a pasta 22 anos depois de ocupá-la durante o governo do falecido líder socialista Hugo Chávez, de quem foi companheiro de armas no fracassado golpe de Estado de 1992. 

Maduro também renovou a pasta estratégica do Petróleo, agora a cargo da vice-presidente Delcy Rodríguez, que exercerá ambas as funções. O general Vladimir Padrino, ministro da Defesa desde 2014, foi confirmado no cargo.

- Nova convocação? -

González Urrutia, diplomata de 74 anos, ignorou na terça-feira pelo segundo dia consecutivo, uma intimação do Ministério Público, que o investiga pela suposta prática de "usurpação de funções" e "falsificação de documento público". 

Esses crimes podem, teoricamente, acarretar uma pena máxima de 30 anos de prisão. 

Ele também é investigado, junto com Machado, pelo site onde a oposição publicou cópias de mais de 80% das atas, que afirmam ser prova de que González venceu com mais de 60% dos votos. 

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro com 52% dos votos, sem publicar a votação detalhada mesa por mesa, conforme exigido por lei. Argumentou que foi alvo de hacking, o que especialistas e opositores descartam. 

De qualquer forma, o Tribunal Superior validou o resultado. Ambas as organizações são acusadas de servir ao chavismo. 

O Ministério Público não informou se fará nova intimação a González, mas na tarde de terça-feira Perkins Rocha, assessor jurídico de Machado, foi preso. Segundo o seu partido, Vente Venezuela, foi levado à "força" por indivíduos "não identificados". 

A prisão se soma a uma lista de mais de 100 ativistas da oposição detidos após colaborarem com Machado e González Urrutia durante o ciclo eleitoral. 

Seis colaboradores de confiança da oposição, incluindo sua chefe de campanha, Magalli Meda, estão refugiados na embaixada argentina, atualmente administrada pelo Brasil.

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