O Exército israelense realizou, nesta quarta-feira (28), uma "operação antiterrorista" de envergadura incomum em quatro localidades e em dois campos de refugiados na Cisjordânia ocupada durante a qual eliminou, segundo o seu relato, nove combatentes.
Na Faixa de Gaza, devastada por mais de dez meses de guerra entre Israel e o movimento islamista Hamas, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) suspendeu suas operações, após o bombardeio contra um veículo da ONU.
A violência aumentou na Cisjordânia, um território ocupado por Israel desde 1967, após o início do conflito em Gaza, desencadeado por uma incursão brutal de milicianos do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro de 2023.
O Exército israelense lançou uma "operação antiterrorista" com bombardeios e incursões de comboios de blindados nas cidades de Jenin, Nablus, Tubas e Tulkarem, e contra dois campos de refugiados.
As forças israelenses indicaram ter "eliminado nove terroristas" e o Crescente Vermelho palestino cifrou também em nove o número de palestinos mortos, acrescentando que houve 15 feridos.
Segundo o Hamas, três dos mortos no campo de refugiados de Jenin são membros de seu braço armado.
A ONU advertiu que a operação "corre o risco de agravar seriamente uma situação já catastrófica".
"Israel, como potência ocupante, deve cumprir suas obrigações segundo o direito internacional", declarou a porta-voz do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU (Acnudh), Ravina Shamdasani.
"A destruição é enorme. Atacaram infraestruturas no campo de Nur Shams, destruíram a rede de água e esgoto", disse à AFP Hakim Abu Sariyeh, funcionário municipal de Tulkarem.
"O Exército [israelense] destruiu a rede de infraestrutura do campo de Nur Shams [...] Está claro que têm um plano que aponta [...] para todos os campos da Cisjordânia", declarou o governador de Tulkarem, Mustafa Taqataqa.
Desde o início da guerra em Gaza, mais de 650 palestinos morreram na Cisjordânia ocupada por ações do Exército ou de colonos israelenses, segundo um balanço feito com informações da Autoridade Palestina, que administra parcialmente essa região.
Do outro lado, pelo menos 20 israelenses morreram nesse território, entre eles soldados, atacados por palestinos ou em operações militares, segundo dados oficiais de Israel.
- 'Anexar a Cisjordânia' -
Um porta-voz do Exército israelense relativizou a importância da operação desta quarta, indicando que não era "muito diferente nem especial" em comparação com outras anteriores.
Mas o ministro de Relações Exteriores israelense, Israel Katz, assinalou que o objetivo era "desmantelar infraestruturas terroristas iraniano-islamistas" na Cisjordânia.
Por sua vez, o movimento palestino da Jihad Islâmica, aliado do Hamas, denunciou uma "guerra aberta por parte do ocupante" israelense para "impor uma nova situação no terreno para anexar a Cisjordânia".
- EUA sanciona colonos israelenses -
Os Estados Unidos anunciaram novas sanções contra colonos israelenses na Cisjordânia e pediram a Israel que combatesse esses grupos "extremistas".
"A violência dos colonos extremistas na Cisjordânia provoca intenso sofrimento humano, prejudica a segurança de Israel e compromete as perspectivas de paz e estabilidade", declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.
Por sua vez, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, criticou essa iniciativa. "Israel considera muito grave a imposição de sanções contra cidadãos israelenses. A questão é objeto de discussões intensas com os Estados Unidos".
O Exército israelense admitiu que havia fracassado em impedir o ataque de uma centena de colonos judeus contra um vilarejo palestino em 15 de agosto, um incidente que provocou protestos internacionais.
O general de divisão Avi Bluth classificou esse ataque contra o vilarejo de Jit, que deixou um morto, como "ato terrorista muito grave" e indicou que o caso "não será encerrado até que os autores compareçam perante a Justiça".
- Sem trégua em Gaza -
Na Faixa de Gaza, a Defesa Civil reportou pelo menos 12 mortos em novos bombardeios no centro e no sul do território.
O PMA anunciou a suspensão, "até novo aviso", dos deslocamentos de seu pessoal em Gaza, depois que um de seus veículos foi atingido na terça-feira por disparos israelenses.
"É totalmente inaceitável", declarou em comunicado Cindy McCain, diretora dessa agência da ONU, ao confirmar o "último de uma série de incidentes inúteis vinculados à segurança que colocaram em perigo as vidas de nossas equipes em Gaza".
A guerra em Gaza começou após o ataque do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro que resultou na morte de 1.199 pessoas, a maioria civis.
Além disso, os milicianos sequestraram 251 pessoas, das quais 105 continuam em Gaza, incluídas 34 que os militares israelenses declararam como mortas.
Em resposta, Israel prometeu destruir o Hamas e lançou uma vasta ofensiva que já deixou 40.534 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.
Os países mediadores entre Israel e Hamas - Catar, Egito e Estados Unidos - tentam conseguir uma trégua e a libertação dos reféns em troca de palestinos presos em Israel.
Uma delegação israelense chegou a Doha, no Catar, nesta quarta-feira para um diálogo de "nível técnico" com os mediadores, segundo uma fonte próxima às negociações.
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