"Separated", documentário do premiado americano Errol Morris apresentado nesta quinta-feira (29) no Festival de Cinema de Veneza, narra o drama sofrido por milhares de crianças imigrantes ilegais que foram separadas dos pais durante a presidência de Donald Trump. 

"Precisamos de fronteiras, precisamos de leis de imigração? Sim, claro. Mas a ideia é que as leis sejam justas e humanas. E esta política chamou particularmente a minha atenção. Ainda me emociona, porque é desumana e cruel ", explicou à AFP Errol Morris, 76 anos, um veterano documentarista que ganhou um Oscar em 2004 com "Sob a Névoa da Guerra". 

Pouco depois de chegar ao poder em 2017, o governo Trump implementou esta política de separação de famílias que cruzaram a fronteira irregularmente. 

Entrar nos Estados Unidos sem documentos é penalizado, e o argumento oficial era que, em caso de crime, as autoridades deveriam separar os adultos dos menores, por precaução. 

Mas o objetivo era dissuadir, efeito que o próprio presidente republicano reconheceu durante a sua campanha à presidência. 

Um jornalista, Jacob Soboroff, começou a investigar esta política e os seus artigos, juntamente com a resistência de alguns funcionários do Escritório de Reassentamento de Refugiados (ORR, na sigla em inglês), contribuíram para desvendar o drama. 

Soboroff escreveu um livro sobre o assunto e, encorajado por seu sucesso, um dia ligou para Morris, um renomado documentarista com décadas de trabalho em capítulos sombrios da história americana recente. 

"Ele me perguntou se eu conhecia alguém que gostaria de transformar seu livro em filme. E eu disse que sim e me ofereci", explica Morris. 

O documentário baseia-se em grande parte nas declarações de Jonathan White, que foi vice-diretor da ORR e que se opôs à política aplicada pelo seu superior, Scott Lloyd, também entrevistado. 

A política de separação terminou após uma ordem judicial em junho de 2018. 

Mas até hoje, segundo dados do Departamento de Segurança Interna (DHS) citados em "Separated", mais de mil famílias permanecem separadas. Pelo menos 4.227 crianças foram tiradas dos pais.

"O que me horroriza é que não fizeram listas. Separaram as famílias de tal forma que pode ser impossível reuni-las", explica o documentarista, autor de investigações como "The thin blue line". 

Mais de cinco anos depois, o problema da imigração continua sem solução nos Estados Unidos, às vésperas de novas eleições presidenciais. 

Segundo um relatório oficial recente, não há rastro de mais de 32 mil menores desacompanhados nos Estados Unidos nos últimos quatro anos. 

As autoridades desconhecem o seu paradeiro, embora suas entradas tenham sido registradas no governo do democrata Joe Biden.

A falta de controle da fronteira sul é um dos argumentos mais utilizados pelos republicanos na corrida eleitoral.

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