Os críticos de cinema e o público nem sempre estão em concordância, mas poucas vezes pareceram tão divididos em torno de um filme como no caso de "Reagan", uma cinebiografia que enaltece o ex-presidente dos Estados Unidos lançada alguns meses antes de uma eleição presidencial polarizada na Casa Branca. 

O filme, com Dennis Quaid no papel do republicano Ronald Reagan, estreou na semana passada e obteve 98% de aprovação do público no portal Rotten Tomatoes. Mas cativou apenas 21% dos críticos.  

Muitos deles declararam que a produção é como uma hagiografia desajeitada que omite os erros do ex-presidente conservador. Mas milhares de espectadores acusam os críticos de atacar um filme "patriótico" devido a sua visão de esquerda.

"Acrescente a isso o ponto de vista político e, de repente, torna-se muito tendencioso", concordou o diretor Sean McNamara. 

Em vez de fugir da percepção de divisão causada pelo filme, a equipe está usando isso para promovê-lo. Um dos comunicados de imprensa desta semana destacou que esta é "a maior divisão entre críticos e espectadores na história do cinema de Hollywood".

O filme estreou em plena campanha eleitoral para as eleições de 5 de novembro, o que tem ajudado em sua divulgação. 

A arrecadação de US$ 10 milhões (quase R$ 55 milhões na cotação atual) no fim de semana de estreia coloca-lhe "acima da média" para uma biografia política nos Estados Unidos, segundo o analista de bilheteria David A. Gross.

- "Semelhanças" -

Baseado no livro de Paul Kengor, "The Crusader: Ronald Reagan and the Fall of Communism" (2006), o filme acompanha a vida do 40º presidente dos EUA e mostra desde sua infância, seus anos em Hollywood, até o seu ingresso na política.

Anunciado em 2010, a produção só foi filmada em 2020, sofrendo atrasos devido à pandemia de covid-19 e às greves de Hollywood. Os cineastas afirmam que foi uma coincidência o seu momento de estreia em pleno contexto eleitoral.

"Se você assistisse ao filme em um ano sem eleições, você o veria apenas como um filme, eu acho", disse McNamara.

A cinebiografia começa com a tentativa de assassinato de Reagan em 1981, recordando a tentativa de assassinato do candidato republicano Donald Trump em julho. Também mostra o político enfrentando protestos universitários e o seu rival democrata em debates presidenciais noa quais emergem questões como a idade avançada do presidente. 

"Quando vejo o filme agora, penso 'nossa, isso é parecido com o que acontece hoje' (...) fiquei impressionado com as semelhanças", acrescentou o diretor.

McNamara está acostumado a fazer filmes "para o público' que não necessariamente agradam aos críticos. Mas para ele, o contraste entre as reações a "Reagan" é ainda maior e fala das profundas divisões do país. 

Embora a década de 1980 também tenha sido uma era de "muito ódio", ainda era "uma nação mais amigável", onde as pessoas podiam ter divergências políticas sem que isso as impedisse de se encontrarem para beber ou fazer um churrasco, afirmou o cineasta. 

O que o próprio Ronald Reagan pensaria do clima atual?  

"Reagan era um grande comunicador e acho que ele teria tentado reduzir esta distância e conversar com as pessoas", declarou. 

"Acho que o mais importante é que você olhe para o mundo hoje e diga: 'Gostaria que eles tentassem se comprometer um pouco mais", completou McNamara.

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