Santa Cruz, a capital econômica da Bolívia e reduto da oposição, realiza nesta sexta-feira (6) uma greve de 24 horas contra o recente censo que, segundo líderes civis, foi manipulado pelo governo para reduzir a população, os recursos públicos e a representação legislativa.
O protesto foi convocado pelo comitê civil do departamento de Santa Cruz, que reúne sindicatos e organizações de oposição ao Movimento Ao Socialismo (MAS), partido no poder e cuja liderança é disputada pelo presidente Luis Arce e o ex-mandatário Evo Morales (2006-2019).
"Percorremos mercados, escolas, universidades e estão fechados. As pessoas que não estão nas ruas estão em suas casas", relatou Stello Cochamanidis, líder civil, em uma primeira avaliação do protesto.
A cidade, com 1,6 milhão de habitantes de acordo com o censo oficial, mostrava ruas e avenidas sem trânsito. Em vários pontos é possível ver pneus de carros e cordas, como objetos para bloquear a passagem e até caminhões para impedir qualquer tipo de circulação.
Organizações de bairro e políticos associados ao governo anunciaram que vão reabrir ruas e avenidas nas próximas horas.
"Vamos desbloquear, porque não podemos permitir que a população sofra", declarou o vereador José Quiroz.
- "Fraude" -
Segundo as forças da oposição de Santa Cruz, o governo, a pedido do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), cometeu uma "fraude" no censo realizado em março, cujos dados foram divulgados na semana passada.
Denunciamos a "fraude de centenas de milhares de habitantes do povo boliviano em geral, dos que residem em Santa Cruz em particular; que estão privados do acesso justo e igualitário aos recursos fiscais (...) assim como estamos impedidos, mais uma vez, da correta realocação dos assentos parlamentares", afirmou o comitê civil em comunicado.
De acordo com o censo, a Bolívia atingiu este ano pouco mais de 11,3 milhões de habitantes, dos quais 27,5% vivem em Santa Cruz. Com 3.115.386, Santa Cruz ultrapassou La Paz pela primeira vez e é o departamento mais populoso.
Contudo, os organizadores da greve afirmam que os dados foram manipulados e estão abaixo das projeções feitas pelo próprio INE. Também destacaram que o Instituto Cruzeiro de Estatística (ICE), associado ao governo, estimou pouco mais de quatro milhões de habitantes em todo o departamento.
O censo é utilizado como referência para a atribuição de recursos do Estado, bem como do número de assentos no Legislativo frente às eleições gerais de 2025.
Prefeituras e governos nas mãos da oposição também criticaram o recenseamento e fizeram um apelo à uma auditoria internacional.
Com "esta fraude, o que nos fizeram foi roubar milhões e milhões de dólares neste momento em que não há dinheiro", insistiu Cochamanidis.
Segundo o INE, a população total da Bolívia aumentou 12,45% em comparação ao censo de 2012.
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