Daniel combate a criação ilegal de camarões na Indonésia, Abdulaziz luta contra um projeto de petróleo em Uganda e Alex se opõe ao garimpo ilegal de ouro no Equador — mas todos enfrentam repressão e violência.
Quase 200 ativistas ambientais foram mortos em 2023, principalmente na América do Sul, onde se engajar na justiça climática é particularmente perigoso, de acordo com a organização Global Witness.
Confira a seguir as histórias de três ativistas que lutam para proteger os ecossistemas:
- 'Responsabilidade' geracional -
Daniel Frits Maurits Tangkilisan foi agredido, preso e processado por seu ativismo para proteger um parque nacional, mas ele não se cala.
"Por que ter medo? Depois de ser intimidado, por que recuar? Seu lar deve ser defendido, protegido", disse o homem de 51 anos à AFP em Jacarta, onde aguarda uma nova decisão em um processo judicial.
Nascido e criado na capital indonésia, ele "se apaixonou à primeira vista" pelo remoto Parque Nacional das Ilhas Karimunjawa em sua primeira visita, em 2011, e se estabeleceu na ilha de Java, também na Indonésia.
Daniel começou a notar o crescente impacto dos criadouros ilegais de camarão, que ele disse terem proliferado pela primeira vez por volta de 2017.
O escoamento desses criadouros matou as algas e forçou a vida marinha local a se afastar da costa, impactando a ecologia local e os meios de subsistência das comunidades pesqueiras, disse ele.
Em 2022, Daniel ajudou a iniciar o movimento #SaveKarimunjawa (Salve Karimunjawa, em tradução livre), que realizou manifestações e pressionou por uma "lei de zoneamento local" que proibisse esses criadouros de camarão.
Mas o ativismo fez dele um alvo — foi ameaçado, agredido, estrangulado e colegas ambientalistas receberam ameaças de morte.
Ele foi preso em dezembro de 2023 por propagar discurso de ódio após uma publicação no Facebook na qual criticava a criação ilegal de camarão. Um tribunal local o sentenciou em abril a sete meses de prisão e emitiu uma multa.
A condenação foi anulada em apelação, mas os promotores levaram o caso à Suprema Corte, insistindo em que ele não deveria ser reconhecido como um ativista climático.
"Este é um preço que deve ser pago", disse Daniel sobre as ameaças e suas batalhas judiciais.
Ele acredita que seu ativismo teve algum sucesso após as recentes inspeções governamentais que forçaram muitas operações ilegais a fecharem.
"Temos uma responsabilidade com nossos filhos, netos e gerações futuras", disse. "Se você desistir, recuar, isso significa que você diz adeus ao seu futuro".
- 'Inferno na Terra' -
Abdulaziz Bweete cresceu em Kawempe, um assentamento informal empobrecido da capital de Uganda, Kampala, e testemunhou em primeira mão o impacto devastador da mudança climática em comunidades mais pobres.
"Eu cresci vendo enchentes ao redor, mas não me interessava pelo que as causava", contou à AFP.
Foram necessárias duas coisas para estimular o jovem de 26 anos: ir para a universidade e ver a resposta do governo de Uganda às manifestações climáticas.
Bweete pertencia a um grupo de organizadores estudantis que protestaram no Parlamento em julho deste ano, com o objetivo de entregar uma petição contrária a um projeto de petróleo bilionário que, segundo os ativistas, levará destruição ao meio ambiente.
Ele e vários outros jovens ativistas foram detidos, acusados de reunião ilegal e mantidos na enorme prisão de segurança máxima de Luzira, em Kampala, até agosto.
Bweete contou à AFP que ele e outros manifestantes foram espancados pela polícia.
O ativista havia sido preso anteriormente após protestos na capital.
"Tudo o que posso dizer é que a prisão é uma merda, um inferno na Terra", disse ele. "Não temos liberdade para protestar neste país", afirmou, olhando ao redor no campus da Universidade de Kyambogo.
As manifestações em Uganda — governadas com mão de ferro pelo presidente Yoweri Museveni há quatro décadas — são frequentemente recebidas com uma resposta policial pesada.
Bweete afirma que a política e as mudanças climáticas andam de mãos dadas.
"Se tivermos bons líderes, podemos ter boas políticas climáticas", disse. "Esta é uma longa luta, mas estamos determinados a vencer".
- 'Defender a vida' -
Dois anos após aceitar o prestigioso Prêmio Ambiental Goldman, Alex Lucitante fez soar o alarme novamente.
"Hoje, a situação é particularmente crítica em nossos territórios", disse o ativista, que pertence a um povo indígena que vive na Amazônia equatoriana ao longo da fronteira com a Colômbia.
Os 'cofan avie' são conhecidos por uma vitória judicial sobre a indústria da mineração em 2018, que levou ao cancelamento de 52 concessões de lavra de ouro fornecidas pelo Estado equatoriano.
Lucitante montou uma guarda indígena, patrulhas e um sistema de vigilância por drones para coletar provas de violações por garimpeiros em terras 'cofan avie'.
"A destruição continua avançando em toda a nossa terra", disse ele à AFP.
O ativista afirmou que foi ameaçado recentemente após tornar pública uma nova invasão ilegal na terra de seu povo.
"Tudo acontece à vista de todos e com o conhecimento das autoridades", que estão "às vezes ligadas a atores ilegais que operam na área", acrescentou.
O ambientalista pediu aos líderes globais que ouçam a "voz das comunidades indígenas" e escutem seu clamor por "defender a vida".
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