Os republicanos pediram a suspensão das licenças petroleiras e mais pressão sobre o governo venezuelano, e os democratas lamentaram que a diplomacia não dê frutos, mas ambos concordaram em enfrentar o que consideram uma "ditadura" de Nicolás Maduro, em sessão nesta sexta-feira (20) no Congresso americano.
Em um país muito polarizado, principalmente a menos de 50 dias das eleições presidenciais americanas, é difícil encontrar pontos em comum entre os republicanos, que apoiam Donald Trump, e os democratas, do presidente Joe Biden e da vice-presidente Kamala Harris. Mas uma sessão da subcomitê para a América Latina e o Caribe da Câmara dos Representantes mostrou que eles estão juntos contra o que chamam de "ditadura" de Maduro, mas que divergem sobre como enfrentá-la.
A republicana Elvira Salazar denunciou o que considera uma “contradição cruel". "Maduro intensificou sua brutalidade” e, enquanto isso, "as petroleiras americanas e europeias aumentaram seus lucros alimentando diretamente a máquina tirânica de opressão”, condenou.
A indústria petroleira da venezuela se encontra sob sanções desde 2019, mas Washington concede licenças individuais para operar na Venezuela a várias empresas, como a americana Chevron, a espanhola Repsol e a francesa Maurel & Prom.
A Venezuela possui, teoricamente, as maiores reservas de hidrocarbonetos do mundo, embora sua produção tenha diminuído de 3 milhões de barris por dia, há mais de uma década, para cerca de 870.000 barris diários.
- 'Sangue nas mãos' -
Elvira acusou as petroleiras de terem “sangue nas mãos” por lucrarem apesar dos 27 mortos nos protestos que começaram depois que Maduro foi proclamado reeleito em 28 de julho. A repressão pós-eleitoral “foi severa e sem precedentes na história daquele país”, destacou Enrique Roig, do alto escalão do Departamento de Estado.
A oposição venezuelana afirma que Edmundo González Urrutia venceu as eleições presidenciais. Washington lhe dá razão e pressiona Caracas, mas o governo chavista não dá o braço a torcer.
Elvira Salazar aponta o que pode ser feito: "Uma pausa em cada licença petroleira, reconhecer González Urrutia como presidente legítimo e colocar um preço de 25 milhões de dólares (137 milhões de reais) nos cabeças" de Maduro e em seus colaboradores, com a esperança de que "alguém nas Forças Armadas venezuelanas esteja altamente motivado" a entregá-los.
"Se nós, o governo Biden e os republicanos, não resolvermos esse imbróglio, vamos ter mais 4 milhões de venezuelanos amanhã na nossa fronteira sul”, alertou a republicana, que pediu explicações a Kevin Sullivan, funcionário do escritório do Departamento de Estado para a América Latina.
"Por que autorizaram as licenças e vão conceder mais?", questionou Elvira. "O Tesouro administra as licenças e continuamos revisando nossa poltíca de sanções", respondeu Sullivan.
"Não tente me enganar, sabemos que é o Departamento de Estado que dita a política externa”, respondeu a republicana. "Estamos sempre avaliando como podemos usar melhor nossas sanções", disse Sullivan, deixando aberta a possibilidade de suspender as licenças.
O democrata Joaquín Castro mostrou-se favorável às sanções, mas considerou que Washington deve "estabelecê-las de uma forma que exerça pressão suficiente sobre um governo para que faça o correto e, ao mesmo tempo, não destrua tanto uma economia".
Para Castro, "os Estados Unidos não são nem podem ser o ator principal”, e sim devem cooperar com "seus aliados" na região.
- 'Muita coisa pode acontecer' -
“Nosso papel é e deve ser de apoio" à democracia, ressaltou o democrata, para quem é preocupante que Brasil, Colômbia, México e Catar, que atuavam como intermediários na crise venezuelana, pareçam "estar inativos neste momento".
"Acho que nenhum dos nossos parceiros percebeu uma verdadeira abertura ou flexibilidade até agora por parte de Maduro", disse Kevin Sullivan, mostrando-se, no entanto, otimista: "Muita coisa pode acontecer entre uma eleição e uma posse."
“Infelizmente, Brasil, Colômbia e México vêm se mantendo neutros", comentou o democrata Greg Stanton. Já o republicano Mark Green afirmou que Cuba está ajudando Maduro a se manter no poder, o que Sullivan confirmou, mas não disse se o governo Biden toma medidas para impedi-lo.
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