A ex-companheira de um dos 50 acusados de estuprar Gisèle Pelicot na França reconheceu nesta segunda-feira (23) suas persistentes dúvidas sobre se ela mesma foi drogada e abusada sexualmente pelo ex-marido. 

"Fui manipulada e vivi uma mentira. Amava minha vida", mas "sigo questionando tudo", afirmou entre lágrimas Emilie O., que viveu cinco anos com Hugues M., de 39 anos. 

Seu ex-marido esteve na casa dos Pelicot uma noite de 2019 para agredir sexualmente Gisèle ao lado de Dominique, que a drogou entre 2011 e 2020 para estuprá-la com dezenas de estranhos. 

"Achava que tinha uma vida tranquila e plena, mas estava enganada", afirmou ao Tribunal de Avignon, no sul da França, sem olhar para o ex-marido, de quem se separou em 2020. 

Após sete meses em prisão preventiva por este caso, Hugues M. está em liberdade desde 2 de setembro, quando começou este julgamento de grande repercussão no mundo. 

A mulher de 33 anos explicou que ambos, apaixonados por motos, se conheceram na internet e que rompeu com o marido, a quem descreveu como "sempre respeitoso", devido aos seus "múltiplos" casos extraconjugais. 

Meses depois, descobriu as acusações contra o ex-marido no caso Pelicot. Então, lembrou de uma noite de 2019 quando acordou enquanto seu então companheiro praticava atos sexuais com ela. 

Emilie O. afirma que sentiu "tonturas" entre setembro de 2019 e março de 2020 e apresentou uma queixa. No entanto, as investigações nada revelaram e sua denúncia foi rejeitada por falta de provas materiais. 

Desde então, convive com a dúvida de saber se foi vítima do mesmo procedimento utilizado por Dominique Pelicot. "Sem este processo, eu diria a mim mesma que seria impossível. Agora digo que é possível", declarou a mulher, antes de começar a chorar. 

"Não importa o que ele diga, nunca mais acreditarei nele", acrescentou. 

A quarta semana deste emblemático julgamento sobre submissão química começou nesta segunda-feira com uma audiência de seis novos acusados, incluindo um que tinha 22 anos na época dos fatos. 

Joan K., é acusado de estuprar Gisèle Pelicot em sua casa em novembro de 2019, fatos que o impediram de assistir ao nascimento da própria filha, segundo a investigação. 

Os 51 réus neste caso podem pegar até 20 anos de prisão.

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