"A Segunda Marquetalia deseja um Feliz Natal". O cartaz segue exposto na entrada de uma comunidade rural do departamento de Nariño, sudoeste da Colômbia, meses após a data.

Os milicianos dessa dissidência das Farc, que impõe seu domínio nesta região, inicia complexas negociações de paz com o governo colombiano.

As plantações de folha de coca para a fabricação de cocaína se estendem por toda a localidade de Zavaleta e atravessa os jardins das casas de tijolos.

- "El Patrón" -

No calor da tarde, motocicletas percorrem a rua principal da cidade. Com armas nos cintos, correntes de ouro brilhantes e olhares desconfiados para estranhos, cocaleiros e guerrilheiros ocupam bares de bilhar como "El Patrón", com a imagem de Pablo Escobar. Prostíbulos exibem mulheres de biquíni em suas fachadas. 

Neste ambiente 'western', a ordem ainda reina. "Em Zavaleta, a ordem é a Segunda Marquetalia", segundo o líder de uma associação de agricultores. A polícia e o Exército estão a dezenas de quilômetros de distância.

Liderada por Iván Márquez, líder das antigas Farc, a Segunda Marquetalia foi fundada em 2019 por membros da guerrilha marxista que retomaram as armas após a assinatura do acordo de paz de 2016. 

Durante um período de declínio, a dissidência conseguiu, em menos de dois anos, unificar grupos rebeldes em Nariño, sob o guarda-chuva dos Guerrilheiros Unidos da Colômbia no Pacífico, ao custo de uma guerra sangrenta em 2023 contra o Estado-Maior Central (EMC), o principal grupo dissidente das Farc. 

Desde então, a Segunda Marquetalia domina esta região do Pacífico. 

O departamento de Nariño, com 1,6 milhão de habitantes, respondeu por 27,3% das vítimas do conflito em todo o país em 2023, segundo o centro de estudos Indepaz. 

Entre 2016 e 2024, houve cerca de trinta massacres na região e 130 líderes comunitários foram assassinados no mesmo período.

- "Investimentos conjuntos" -

Em 2022, a região estava muito a frente do resto do país no cultivo de coca (95.000 hectares de um total de 230.000).

Financiada por cartéis mexicanos, a "ascensão e consolidação na sociedade" da Segunda Marquetalia "tem sido impressionante", considera Elizabeth Dickinson, analista do International Crisis Group (ICG). 

"Aqui se cultiva coca de acordo com a Segunda Marquetalia", diz um líder agricultor, a poucos passos dos laboratórios para onde os trabalhadores levam sacos cheios da preciosa folha. 

A substituição dos cultivos de coca foi um compromisso do Estado nos acordos assinados com as Farc em 2016. Porém, para "fazer a transição para economias lícitas", diz Walter Mendoza, negociador-chefe da Segunda Marquetalia, "é necessário transformar profundamente os territórios e com ações reais". 

O grupo afirma trabalhar "com e para" os agricultores e fala em "investimentos conjuntos para o bem-estar da comunidade". 

Especialistas descrevem um "controle coercitivo" da população. Para o jornalista local Winston Viracacha, trata-se de um "pacto" entre as duas partes. 

"Os agricultores realizam vários projetos em benefício de ambas as partes. São administrados por conselhos de ação comunitária em comum acordo com a guerrilha", que fiscalizam para que os recursos econômicos entregues aos agricultores "paguem os salários dos operadores das máquinas e outros transportes utilizados nas obras de infraestruturas nestas regiões, onde a guerrilha mantém a ordem e o controle social". 

A Segunda Marquetalia, que declarou cessar-fogo desde junho, não parece interessada em enfrentar o Exército e a polícia, mas em "evitar o aumento da violência onde estão. Por isso, incentivam a população a estabelecer regras de comportamento social nestas regiões esquecidas pelo Estado", resume Viracacha.

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