Pesquisadores do Reino Unido defendem, em um artigo publicado nesta quarta-feira (25) em uma revista científica britânica, os benefícios do paramotor como uma alternativa de monitoramento ecológico mais respeitosa com o meio ambiente, após uma expedição ao deserto costeiro do sul do Peru.
Cientistas do Royal Botanic Gardens de Kew, em Londres, destacam em seu estudo, publicado na revista Plants, People, Planet, o "empolgante potencial do paramotor", um aparelho de voo composto por um pequeno motor de hélice e um parapente, em comparação com os veículos off-road, "como meio de ajudar nos esforços de pesquisa e conservação nos ecossistemas mais frágeis do mundo".
Os cientistas, com o apoio de um subsídio da National Geographic Explorers, fizeram em 2022 uma parceria com pilotos profissionais de paramotor e cientistas da ONG peruana Huarango Nature para monitorar e coletar plantas em áreas remotas do deserto do Peru, na província de Ica.
"Diante da dupla crise da mudança climática e da perda de biodiversidade, os cientistas estão ampliando o arsenal de ferramentas à sua disposição em uma corrida contra o tempo para descrever e proteger plantas e habitats ameaçados de extinção", explica o texto.
A bióloga peruana Carolina Tovar, que trabalha há nove anos no Royal Botanic Gardens, indica à AFP que "os paramotores podem cumprir um papel muito importante na coleta de amostras de plantas para a pesquisa".
"Foram coletadas amostras da planta Tillandsia que estão sendo analisadas para determinar a diversidade genética das populações", acrescenta a cientista peruana sobre essa espécie emblemática da região.
- "Danos insignificantes" -
No texto publicado na revista científica, os pesquisadores afirmam que "as Tillandsias cobrem grandes extensões do deserto hiperárido do Peru e estão pouco estudadas e mapeadas, já que a superfície única de suas folhas as torna difíceis de rastrear por sensores satelitais".
De acordo com Tovar, que estuda a distribuição de plantas tropicais e o potencial impacto da mudança climática sobre elas, "muitas colinas estão localizadas em áreas remotas, e chegar com um 4x4 leva muito tempo e causa danos na superfície do deserto que abriga vida normalmente não tão visível".
O estudo dos cientistas do jardim botânico de Kew, de várias nacionalidades, aponta que "o paramotor é capaz de chegar a áreas periféricas, reduzindo as emissões de CO2 em até dois terços e, o que é mais importante, com danos insignificantes a habitats frágeis como os oásis de névoa do deserto e as crostas biológicas inexploradas".
Segundo os cientistas, os pilotos de paramotor "completaram suas missões 4,5 vezes mais rápido do que as equipes terrestres e foi estimado que para missões mais longas seriam até 10 vezes mais rápidos".
"Além disso, os paramotoristas puderam inspecionar áreas enormes, apontando e obtendo imagens de regiões específicas que não são identificáveis por drones ou veículos aéreos não tripulados", acrescentam os pesquisadores na publicação.
O texto destaca que os danos provocados "pelos pneus de veículos off-road são de grande alcance e eles podem inclusive causar tempestades de poeira, danificar a arqueologia e destruir ecossistemas e biodiversidade".
"Os paramotoristas foram treinados por cientistas de Kew e Huarango Nature sobre como identificar espécies de plantas-alvo e como coletá-las, referenciá-las geograficamente e preservá-las para seu estudo taxonômico", explicam os autores do estudo.
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