Os familiares de 43 estudantes mexicanos da escola rural de Ayotzinapa, desaparecidos e supostamente massacrados em 2014, sairão nesta quinta-feira (26) às ruas para exigir "a verdade" no décimo aniversário de uma tragédia que chocou o país. 

O caso tornou-se símbolo dos desaparecimentos forçados no México, onde há mais de 100 mil vítimas. 

"Uma década depois, ainda estamos longe de saber a verdade e o paradeiro dos estudantes", disse Vidulfo Rosales, advogado das famílias. 

Dias antes de Claudia Sheinbaum tomar posse como primeira mulher presidente do México, em 1º de outubro, milhares de pessoas, incluindo familiares, estudantes e outros manifestantes, marcharão pela Cidade do México gritando "Eles os levaram vivos!". 

Dez anos mais tarde, eles lutam para encontrar os restos mortais dos jovens e os responsáveis, em um país onde a criminalidade tirou mais de 450 mil vidas desde 2006. 

Até agora, foram encontrados e identificados os restos mortais de apenas três estudantes que desapareceram na noite de 26 de setembro de 2014 em Iguala, sul do estado de Guerrero. 

As famílias criticam o presidente em final de mandato, Andrés Manuel López Obrador, aliado de Sheinbaum, por não ter localizado os outros. 

"Acreditamos que este presidente mentiu para nós. Este presidente nos enganou", disse María Elena Guerrero, mãe de uma das vítimas, em um dos eventos pelo triste aniversário.

- AMLO defende sua gestão -

López Obrador defendeu seus esforços para esclarecer o caso em uma carta enviada esta semana a familiares, na qual destacou a acusação de 151 pessoas, incluindo 16 soldados, e a prisão de 120 pessoas, além de buscas em centenas de locais. 

"Não há provas de que o Exército esteja envolvido no desaparecimento dos jovens", disse o presidente à imprensa na quarta-feira, acrescentando que os militares colaboraram na investigação. 

Estudantes da escola de Ayotzinapa, comunidade conhecida por seu ativismo antissistema, desapareceram quando viajavam de ônibus para uma manifestação na Cidade do México, onde relembrariam o massacre de centenas de estudantes em 2 de outubro de 1968. 

Os investigadores acreditam que os jovens foram sequestrados por um cartel de drogas com a ajuda da polícia local, embora não esteja claro o que aconteceu em seguida. 

A chamada "verdade histórica" – versão oficial do caso apresentado em 2015 pelo então governo de Enrique Peña Nieto – foi amplamente desacreditada, especialmente a tese de que os corpos foram incinerados em um depósito de lixo. 

Em 2022, uma comissão da verdade criada pelo governo de López Obrador qualificou o caso como "crime de Estado" e disse que os militares compartilham a responsabilidade, diretamente ou por negligência. 

A comissão constatou que o Exército estava ciente dos fatos e tinha informações em tempo real sobre o sequestro e o desaparecimento. 

Também apresentou a hipótese de que os membros do cartel teriam atacado os estudantes porque, sem saber, embarcaram em um ônibus com drogas escondidas. 

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