A líder da oposição venezuelana María Corina Machado recebeu, nesta segunda-feira (30), o prêmio Václav Havel do Conselho da Europa, tornando-se a primeira latino-americana a obter este prêmio que reconhece ações em defesa dos direitos humanos. 

"O significado deste prêmio é imenso, não só para mim, mas para todos aqueles que hoje lutam juntos pela causa da liberdade na Venezuela", agradeceu Machado, que vive clandestinamente no seu país, por videoconferência. 

A sua filha Ana Corina Sosa Machado recebeu o prêmio em nome da mãe das mãos do presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, Theodoros Rousopoulos, durante a sua sessão plenária em Estrasburgo, no nordeste da França.

"Machado é uma figura política de destaque na Venezuela, empenhada em denunciar as violações dos direitos humanos no seu país e em defender a democracia e o Estado de direito", sublinhou Rousopoulos perante os parlamentares. 

A opositora, de 56 anos, desempenhou um papel fundamental nas eleições presidenciais da Venezuela em julho. Embora as autoridades tenham proclamado Nicolás Maduro como presidente, a oposição afirma que o seu candidato, Edmundo González Urrutia, foi o verdadeiro vencedor. 

Depois do anúncio da reeleição de Maduro para um terceiro mandato consecutivo (2025-2031), eclodiram protestos que deixaram 27 mortos – dois deles soldados –, cerca de 200 feridos e pelo menos 2.400 detidos, incluindo 164 menores.

"Em resposta a esta derrota retumbante, o regime reagiu de forma brutal. Milhares de concidadãos, incluindo mulheres e crianças, foram detidos e torturados. Centenas de colegas foram maltratados" ou "tiveram que ir para o exílio", denunciou a opositora. 

Desde as eleições presidenciais, a situação da oposição é precária. Machado está escondida em meio a uma onda de prisões de membros do seu círculo próximo, e González Urrutia exilou-se na Espanha em 8 de setembro.

- "Estou no lugar certo" -

Embora Maduro tenha garantido no sábado que a líder da oposição se prepara para deixar o país, Machado, que costuma sair do esconderijo em raras ocasiões para participar de manifestações, reiterou nesta segunda-feira que a sua intenção é permanecer na Venezuela. 

"Estou no lugar certo e na hora certa. Decidi continuar lutando ao lado do povo venezuelano. Estou convencida de que é a coisa certa a se fazer, que é o meu papel", disse a vencedora do prêmio, que em uma recente entrevista à AFP reconheceu que este é "um grande desafio pessoal".

"A ditadura iniciou a sua queda inevitável", acrescentou a líder da oposição, que venceu os outros dois finalistas do prestigiado prêmio: o ativista político azerbaijano Akif Gurbanov, preso em 2024, e a feminista georgiana Babutsa Pastaraia.

O Prêmio Vaclav Havel, criado em 2013 por esta instituição não vinculada à União Europeia e dotado de 60.000 euros (66.715 dólares ou 363 mil reais no câmbio atual), recompensa ações excepcionais da sociedade civil em defesa dos direitos humanos. 

Em 2023, o prêmio foi concedido ao mecenas turco preso Osman Kavala, que sucedeu ao líder da oposição russa Vladimir Kara-Murza. Este último esteve presente nesta segunda-feira em Estrasburgo, depois de ter sido libertado por Moscou em agosto em uma troca de prisioneiros.

Kara-Murza garantiu que há mais de 1.300 presos políticos na Rússia de Vladimir Putin, "muito mais do que nos últimos anos da União Soviética". "Devemos continuar lutando pela sua libertação e pela libertação de todas as pessoas injustamente presas no mundo", acrescentou. 

Das 12 pessoas que ganharam o prêmio Václav Havel, que homenageia o dissidente soviético e posterior presidente tcheco, seis estão na prisão por desejarem "fazer ouvir as suas vozes, compartilhar a sua visão de uma sociedade justa e livre", sublinhou Rousopoulos.

tjc-av/acc/aa