Aplaudido por dezenas de milhares de manifestantes em São Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro chamou, neste sábado (7), de "ditador" o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pelo bloqueio da rede social X no Brasil.

No Dia da Independência, os manifestantes entoaram palavras de ordem em favor da "democracia" e da "liberdade" e pediram o impeachment de Moraes, que, uma semana atrás, ordenou a suspensão do acesso à rede social de propriedade do bilionário Elon Musk, apoiador de Bolsonaro.

"Devemos botar freios naqueles que rompem o limite das quatro linhas da nossa Constituiçao", afirmou Bolsonaro na Avenida Paulista, de cima do palco com vista para uma multidão vestida de verde e amarelo.

Ele então mencionou o pedido de impeachment contra Moraes que deve ser apresentado na segunda-feira no Senado por parlamentares de direita. A proposta, cujo resultado é incerto no momento, recebeu o apoio de Musk por meio do X.

"Espero que o Senado federal bote um freio em Alexandre de Moraes, esse ditador que faz mais mal ao Brasil que o próprio [presidente] Luiz Inácio Lula da Silva", disse Bolsonaro.

Com base em um programa que analisa fotografias aéreas, o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), estimou que cerca de 45.000 pessoas compareceram neste sábado para ouvir o ex-presidente. 

O público é quase quatro vezes menor do que o que foi registrado em fevereiro no mesmo local, com 185.000 manifestantes, segundo o mesmo método de cálculo.

- "Censura" -

Moraes é visto como o maior inimigo dos bolsonaristas, especialmente após condenar Bolsonaro, em 2023, a oito anos de inelegibilidade por disseminar desinformação sobre o sistema de votação eletrônico. Ele era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O bloqueio da rede social X foi decretado por Moraes em 30 de agosto, entre outros motivos, pela reativação de contas de bolsonaristas que ele havia suspendido por divulgar notícias falsas.

"Quem é o criminoso, Jair Messias Bolsonaro ou Alexandre de Moraes?", perguntou do palco o pastor Silas Malafaia, um dos organizadores da manifestação. "Moraes tem que sofrer impeachment e ir pra cadeia! Lugar de criminoso é na cadeia", defendeu.

A arquiteta Emilia Lapolli, de 35 anos, disse que estava na Paulista para pedir o impeachment do ministro. "O que ele está fazendo é inaceitável, ele está ignorando a nossa Constituição”, declarou à AFP Lapolli, presente desde o início do evento. 

“Vim para protestar contra essa loucura que está acontecendo aqui no nosso país. A censura que está aí, né?”, disse Sérgio Luiz Barreira, técnico de informática aposentado de 74 anos, exibindo um cartaz escrito "Fora Moraes".

Muitos cartazes com o rosto de Elon Musk podiam ser vistos ao longo da Avenida Paulista.

Enquanto a direita considera o bloqueio do X um ataque à liberdade de expressão, a esquerda o vê como uma medida justa contra a desinformação que Musk permite em sua plataforma.

"Seremos sempre intolerantes com qualquer um, independentemente de sua fortuna, que desafie a legislação brasileira", afirmou o presidente Lula em um pronunciamento na véspera do feriado de Independência, sem citar diretamente Musk.

A democracia "não é o direito de mentir, de espalhar o ódio ou de atentar contra a vontade do povo", acrescentou o presidente.

A manifestação deste sábado ocorre em um momento em que o governo está enfraquecido pelo maior escândalo desde que assumiu, em janeiro de 2023. 

Acusado de assédio sexual por várias mulheres, o ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida, foi demitido na sexta-feira. Uma das denúncias é da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.

Lula, por sua vez, comandou o tradicional desfile de 7 de setembro em Brasília a bordo do Rolls-Royce presidencial, antes de ocupar seu lugar na tribuna oficial, a poucos metros de Moraes, presente ao lado de ministros, parlamentares e outros representantes do poder judiciário. 

Cerca de 30 atletas militares que participaram dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 também estiveram no desfile na capital, entre eles Caio Bonfim, que exibiu sua medalha de prata conquistada na prova de 20 quilômetros de marcha atlética. 

Bolsonaro havia pedido a seus seguidores que não participassem das cerimônias de comemoração da Independência organizadas pelo governo.

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