A União Europeia (UE) deve acelerar os investimentos, inclusive com a emissão de dívida conjunta, para financiar uma "nova estratégia industrial" que lhe permita acompanhar o ritmo dos Estados Unidos e evitar ser economicamente dependente da China, alertou um relatório nesta segunda-feira (9).
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, encarregou Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), no ano passado, de para elaborar um relatório sobre como aumentar a competitividade do bloco em um contexto de crescente insegurança global.
O documento recomenda um investimento anual de pelo menos 750 bilhões - 800 bilhões de euros (829 bilhões - 885 bilhões de dólares ou 4,6 trilhões - 4,9 trilhões de reais), o que equivale a quase 5% do Produto Interno Bruto (PIB) da UE.
Draghi, que também foi primeiro-ministro de Itália, reconheceu que esta é uma medida "sem precedentes" e que representaria um impulso maior do que o Plano Marshall, que ajudou a reconstruir o continente europeu após a Segunda Guerra Mundial.
Segundo o ex-presidente do BCE, a recomendação justifica-se pelo "desafio existencial" que o bloco de 27 países membros enfrenta.
"Pela primeira vez desde a Guerra Fria, devemos realmente temer pela nossa sobrevivência, e a necessidade de uma resposta unificada nunca foi tão grande", disse Draghi em coletiva de imprensa em Bruxelas.
O seu plano para uma "mudança radical" contém 170 propostas e enfatiza a necessidade de fechar uma "brecha de inovação" tanto com os Estados Unidos como com a China.
Nesse sentido, ele defende investimentos "massivos" para financiar as prioridades do bloco, que vão desde a indústria de defesa europeia até os objetivos de descarbonização.
Draghi também destacou a fraqueza da UE nas tecnologias emergentes que impulsionarão o crescimento futuro. Apenas quatro empresas europeias estão entre as 50 maiores empresas de tecnologia do mundo.
- Emissão de dívida conjunta -
A UE deve "continuar emitindo instrumentos de dívida conjunta para financiar projetos de investimento comuns que busquem aumentar a competitividade e a segurança" do bloco, declarou Draghi.
A UE recorreu a empréstimos conjuntos para criar um fundo de 800 milhões de euros para ajudar as economias dos Estados-membros mais duramente atingidas pela pandemia, mas o conceito permanece controverso.
A França, por exemplo, é um dos maiores defensores deste plano de recuperação pós-covid, mas outros países como a Alemanha e os Países Baixos o rejeitam porque temem ser forçados a contribuir de maneira desproporcional.
Ciente das críticas geradas por sua proposta, Draghi destacou que os empréstimos comuns só seriam possíveis se "as condições políticas e institucionais forem cumpridas".
Outra forma, disse ele, é mobilizar melhor o capital privado no bloco, defendendo uma verdadeira "união dos mercados de capitais" da UE, estagnada há muito tempo.
"O setor privado não será capaz de assumir a maior parte do financiamento dos investimentos sem o apoio do setor público", afirma o relatório.
Von der Leyen, reeleita presidente do bloco Executivo da UE em julho, espera usar o relatório de 400 páginas para definir as prioridades do seu gabinete, que apresentará esta semana.
A presidente da Comissão não se referiu diretamente à emissão de dívida conjunta, mas sim às contribuições nacionais e outras fontes de renda para alimentar o orçamento da UE.
A UE está atolada na estagnação econômica há um ano e meio e enfrentou a crise causada pela pandemia de 2020 pior do que os Estados Unidos.
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