"Tenho a sensação de dever cumprido", disse Thomas Jolly, diretor artístico das quatro cerimônias dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris, que, após a atenção midiática global, quer dirigir um "pequeno teatro para 50 espectadores". 

Entrevistado pela AFP ao final da cerimônia de encerramento dos Jogos Paralímpicos, no domingo, no Stade de France, Jolly afirmou estar "muito feliz e muito cansado" após dois anos dedicados aos eventos. 

Pergunta: Quais momentos marcaram? 

Resposta: "A nuvem azul, branca e vermelha – a bandeira francesa – acima da ponte Austerlitz, decorada como um teatro, no início da primeira cerimônia. Também o encontro entre Aya Nakamura e a Guarda Republicana, foi a sinergia de tudo queríamos mostrar. E ainda, as muletas dos dançarinos representando remos em uma das coreografias de Alexander Ekman na abertura das Paralimpíadas". 

P: Qual lição tirou da experiência olímpica? 

R: "Quando fazia cursos de teatro, quando era diretor, sentia que o teatro é um ato político, que o nosso trabalho serve para que o individuo possa avançar em vários temas. Aqui, com um público de 25 milhões de pessoas (só na França) após a primeira cerimônia, dar a cada um sua visibilidade, reconhecimento e representação foi extremamente político. Há também um sentimento de união, de orgulho, de fazer parte de um grande grupo. Recebo muitas mensagens que expressam orgulho, de que algo foi feito". 

P: O que pensou sobre a chuva na cerimônia de abertura dos Jogos? 

R: "Naquela sexta-feira (26 de julho) chorei o dia todo. Obviamente havíamos previsto diferentes adaptações (da cerimônia). Depois fui tomado pela potência do espetáculo".

P: Qual legado as cerimônias deixarão? 

R: "As artes cênicas - principalmente a dança, o teatro, a ópera e o circo - foram homenageadas. Espero que as cerimônias tenham mostrado o poder da arte e do espetáculo ao vivo. Se mostraram aos poderes públicos o poder unificador da cultura que a França precisa, melhor ainda". 

P: Você sofreu uma campanha de cyberbullying pela cena "A Festa dos Deuses", criticada por remeter à Última Ceia de Jesus Cristo. Como você enfrentou isso? 

R: "Houve ataques muito duros de personalidades (como o ex-presidente americano e candidato republicano Donald Trump e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan) e foi algo irracional. Hoje acabou. 

Como podem acreditar que, em meu íntimo, eu queria debochar da religião católica sendo que outra cena era dedicada a Notre-Dame de Paris? 

Saber que chegaria a este ponto de ódio, ameaças e intimidação me desestabilizou no sentido de que a mensagem pretendida era de união. Eu denunciei para conscientizar as pessoas de que o cyberbullying é penalizado, a discriminação é crime".

P: Está ansioso para preparar as cerimônias dos Jogos de Inverno de 2030 no Alpes franceses? 

R: "Agora eu diria que não... não sobraram ideias! (risos). Se ainda tenho vontade de fazer espetáculos desse porte? Embora possa parecer estranho, agora eu quero muito um teatro pequeno para 50 espectadores."

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