O Banco Central do Brasil deve aumentar nesta quarta-feira (18) sua taxa básica de juros em 0,25%, chegando a 10,75%, dois meses após interromper um ciclo de cortes. 

O economista Mauro Rochlin, coordenador acadêmico da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse que a "quase unanimidade do mercado" acredita que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) será nesse sentido. 

"Temos alguns problemas também conjunturais, problemas com relação à seca, problemas com relação a um desemprego muito baixo hoje. Fala-se de pleno emprego, inclusive. O crédito vem se expandindo muito fortemente e, por esses motivos, se acredita que haja uma alta de pelo menos 0,25%", afirmou à AFP. 

A maioria das 123 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo jornal Valor nesta semana prevê que a taxa Selic ficará em 10,75%. 

O aumento contradiz os apelos por redução feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva sob o argumento de que não há explicação para o nível atual. 

Em sua última reunião, em julho, o Copom decidiu pela segunda vez consecutiva mantê-la intacta em 10,5% por "cautela" diante de um cenário internacional "incerto" e das projeções de aumento da inflação no país.

Se for confirmado nesta quarta, será o primeiro aumento em pouco mais de dois anos, desde agosto de 2022, e do terceiro mandato de Lula. 

A taxa permaneceu inalterada em 13,75% durante um ano, até agosto de 2023. Começou então um ciclo de sete cortes consecutivos até junho. 

A inflação registrou leve queda de 0,02% em agosto e ficou em 4,24% no índice anual. Embora esteja dentro da margem de tolerância oficial (até 4,50%), continua longe da meta de 3%. 

Segundo o último boletim Focus do Banco Central, divulgado na segunda-feira, o mercado espera uma inflação de 4,30% para este ano. 

Já o desemprego registrou uma redução de 1,1 ponto no trimestre maio-julho, situando-se em 6,8%. A população ocupada atingiu novo recorde histórico de 102 milhões de pessoas no período. 

O Executivo prevê que a economia brasileira cresça 3,2% este ano, enquanto o mercado prevê 2,68%.

- Na contramão do Fed -

A política de taxas elevadas torna o crédito mais caro e desencoraja o consumo e o investimento. 

Desde que assumiu o poder em janeiro de 2023, Lula tem pressionado por um corte das taxas para impulsionar o crescimento econômico. 

Em suas críticas, atacou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a quem acusou de "trabalhar para prejudicar o país". 

A reunião do Copom de terça e quarta-feira ocorre após Lula nomear o economista Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária da instituição, para chefiar o Banco Central a partir de 2025. 

A designação ainda precisa receber aprovação do Senado. 

A elevação da taxa básica também está relacionada à desvalorização do real frente ao dólar e à desconfiança do mercado na capacidade do governo de cumprir a meta fiscal, segundo analistas. 

A decisão do Banco Central do Brasil vai contra a do Federal Reserve (banco central americano), que se prepara para cortar nesta quarta-feira sua taxa básica de juros pela primeira vez desde 2020.

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