O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, fez nesta sexta-feira (20) os "últimos ajustes" para seu futuro governo de "unidade", após alguns dos ministros propostos ao presidente Emmanuel Macron gerarem controvérsias por seus perfis ultraconservadores.

O governo não será anunciado nesta sexta-feira, pois ainda estão em andamento os "últimos ajustes", indicou o gabinete de Barnier, que afirmou que a nomeação dos futuros ministros ocorrerá "antes de domingo", depois que possíveis incompatibilidades forem verificadas.

Na noite de quinta-feira, o primeiro-ministro propôs a Macron o nome de dois senadores de seu próprio partido conservador, Os Republicanos (LR): Laurence Garnier, para o ministério da Família, e Bruno Retailleau, como ministro do Interior.

Os dois nomes geraram desconforto na oposição de esquerda e até mesmo entre as fileiras centristas do futuro governo devido às posições passadas de Garnier contra o casamento igualitário e à linha dura de Retailleau em relação à imigração.

"Depois de todo o trabalho que realizamos em questões sociais, Laurence Garnier e Bruno Retailleau no governo, para mim, é um não!", escreveu na rede social X o deputado 'macronista' Ludovic Mendes.

Garnier votou contra a proteção do aborto na Constituição, uma medida aprovada na França em fevereiro, e contra a criação de um crime, em 2021, para punir as terapias de conversão, cujas práticas controversas tentariam "curar" pessoas homossexuais.

Retailleau defende o endurecimento da política migratória de Macron, com uma visão próxima à extrema direita. Durante os distúrbios nos subúrbios de Paris em 2023, o possível ministro falou sobre um “retorno em relação às origens étnicas" nessas áreas com população de origens estrangeiras.

Na atual crise política na França, qualquer desconforto pode complicar a formação de um governo entre a aliança de centro-direita de Macron e o LR, cuja sobrevivência, por enquanto, depende de a extrema direita não apoiar uma moção de censura.

Nesta sexta-feira, o presidente pediu a "todos os grupos políticos com compromisso e senso de responsabilidade" que "ajudem [Barnier] a formar um governo", em prol do "interesse coletivo".

- "Mais do mesmo?"

Macron antecipou para junho as eleições legislativas que aconteceriam somente em 2027, após a vitória do partido de extrema direita de Marine Le Pen na votação para o Parlamento Europeu, mas os resultados do pleito complicaram ainda mais a situação.

A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) venceu as eleições com 193 deputados, mas Macron se recusou a nomear sua candidata a primeira-ministra, a economista Lucie Castets, ao considerar que ela poderia rapidamente ser alvo de uma moção de censura.

Em vez disso, encarregou Barnier, um político veterano de 73 anos, de montar um governo de "unidade", que, contando os deputados da aliança do presidente, do LR e outros deputados centristas, ficaria muito aquém da maioria de 289 deputados e à mercê da extrema direita.

"Para que uma dissolução [do Parlamento] se era só para ter mais do mesmo, ainda mais à direita?", ironizou o ex-presidente socialista e atual deputado François Hollande, referindo-se à continuidade dos 'macronistas' no governo.

Macron, cujo mandato termina em 2027, já teve uma guinada à direita em janeiro, com Gabriel Attal à frente do governo. No entanto, com Barnier o presidente avança muito mais na direção deste espectro político, em um contexto em que a Europa também se torna mais conservadora em questões migratórias.

O chefe de governo indicou na quinta-feira que seus objetivos são, entre outros, "garantir a segurança, controlar a imigração", "controlar as finanças públicas e reduzir a dívida ecológica", além de "melhorar a vida dos franceses".

Um de seus primeiros desafios será a apresentação do orçamento de 2025, no momento em que a França não cumpre os limites de déficit e dívida pública estabelecidos pelas normas europeias, sem aumentar os impostos para as classes médias e melhorando os serviços públicos, conforme prometido.

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