O ex-presidente Evo Morales avança nesta segunda-feira (23) sobre La Paz, acompanhado de milhares de seguidores, em um tenso protesto que começou há uma semana contra o governo de Luis Arce, em razão da crise econômica e de uma suposta tentativa de sabotar sua candidatura presidencial.
Morales lidera o que chamou de "marcha para salvar a Bolívia" contra Arce, que foi seu ministro da Economia durante os 13 anos em que exerceu o poder (2006-2019) e com quem agora disputa a nomeação presidencial do governo para as eleições de 2025.
No domingo, em uma mensagem televisionada, Arce advertiu Morales que não lhe daria o "gosto de uma guerra civil", após confrontos com paus e pedras entre manifestantes dos dois lados, os quais deixaram 34 feridos, em meio ao protesto opositor, segundo números oficiais.
Antes da chegada da marcha da cidade vizinha de El Alto, a polícia bloqueou os acessos à sede do governo, enquanto centenas de apoiadores de Arce se concentraram nas proximidades, aguardando a entrada de Morales e seus seguidores.
"Viemos defender a democracia para que o irmão presidente cumpra seu mandato. Não queremos que ele seja prejudicado. Está vindo o grupo do irmão Evo Morales para prejudicar", disse à AFP Lourdes Calizaya, dirigente do Conselho das Federações Camponesas dos Yungas.
Está previsto que a mobilização contra o governo – que segundo Morales reúne cerca de 15.000 pessoas – se concentre na capital boliviana à tarde, após um percurso de aproximadamente 190 km pelo altiplano boliviano.
"Nossa marcha é para dizer basta de corrupção, de um governo de famílias, de encobrimento ao narcotráfico, de destruição da economia do povo e de ataque às nossas organizações sociais", escreveu Morales em suas redes sociais.
- Crise e disputa política -
A Bolívia, um país rico em gás e recursos de lítio – mineral-chave na transição para energias limpas – enfrenta desde o ano passado escassez de combustível e de dólares.
Diante da queda nas vendas de gás para o exterior, associada ao declínio da produção por falta de investimento na indústria, o país reduziu as importações de combustível distribuído a preço subsidiado.
Arce tem utilizado as reservas internacionais para manter os subsídios, o que, por sua vez, desencadeou uma falta de dólares e a desvalorização do peso boliviano.
No entanto, o pano de fundo da crise é a luta pelo poder entre Morales e Arce.
O influente líder indígena acusou seu ex-ministro de se aliar aos juízes para impedir que ele concorra novamente à presidência em 2025.
A ala governista do Movimento Ao Socialismo apoia a reeleição de Arce, que até o momento não disse se vai se candidatar.
"Essa mobilização não tem como objetivo uma reivindicação social; seu objetivo primordial é interromper o atual mandato constitucional", afirmou a chanceler Celinda Sosa em cartas públicas enviadas à comunidade internacional.
Segundo a chefe da diplomacia boliviana, Morales pretende que seja "viabilizada" uma nova candidatura sua à presidência, "apesar de que a Constituição Política do Estado não o permite".
No final do ano passado, um tribunal superior decidiu contra as aspirações de Morales, alegando que a Constituição boliviana só permite a reeleição imediata uma única vez.
No entanto, o ex-presidente sustenta que está habilitado a se candidatar novamente, pois um mandato presidencial já se passou após ele deixar o poder.
A Defensoria do Povo tentou sem sucesso mediar um diálogo entre os dois líderes durante a marcha.
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