O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, pediu paciência para implementar "um projeto de longo prazo", em seu discurso no congresso do Partido Trabalhista nesta terça-feira (24), em Liverpool, após as críticas a seu governo há quase três meses no poder.

"É um projeto de longo prazo, mas não se enganem, o trabalho de mudança já começou", declarou o chefe do Executivo, de 62 anos, no discurso proferido no terceiro e penúltimo dia do congresso de seu partido, na cidade do noroeste da Inglaterra. 

O líder trabalhista insistiu em tomar "decisões necessárias" para "construir um novo Reino Unido", depois de ter alertado em declarações anteriores que o próximo orçamento anual, que será apresentado no final de outubro, será "doloroso".

Em suas declarações, os membros do governo trabalhista repetem há semanas que herdaram um "rombo" de 22 bilhões de libras (US$ 29,3 bilhões ou R$ 163 bilhões na cotação atual) nas contas públicas após 14 anos de governos conservadores.

Starmer procurou acalmar seus concidadãos, afirmando que "há luz no fim do túnel", depois de ter apresentado uma perspectiva sombria desde a vitória nas eleições no início de julho.

"Keir Starmer precisa oferecer uma visão sobre o que o governo trabalhista defende, quando até agora ele falou principalmente sobre o rombo nas contas públicas que herdaram" dos conservadores, analisou Jonathan Tonge, professor de Ciências Políticas na Universidade de Liverpool, em declarações à AFP.  

"As pessoas podem pensar que não faz sentido substituir um governo conservador por um trabalhista se fizerem coisas semelhantes", acrescentou o professor.

- "Nosso partido não é este" -

Com a ideia de melhorar o estado dos cofres públicos, uma das primeiras medidas do governo trabalhista foi a eliminação de um subsídio de 300 libras (US$ 400 ou R$ 2.220) para ajudar os pensionistas com os custos do combustível energético no inverno. 

"Estávamos cheios de otimismo e esperança (...) Algumas das decisões que o governo tomou nos deixaram desanimados", disse George Cumiskey, um ativista trabalhista de 75 anos, presente no congresso. 

"Nosso partido não é este", acrescentou Jenny Ward, outra integrante, de 76 anos.

Consciente das críticas, Starmer defendeu nesta terça os avanços de seu governo, como as primeiras medidas para controlar a imigração ilegal, a construção de moradias ou as melhorias nos transportes. 

"Entendo que muitas das decisões que temos tomar são impopulares. Se fossem populares seriam fáceis, mas o custo de preencher esse buraco negro nas nossas contas públicas será compartilhado de forma justa", disse o líder trabalhista.

Sua recente viagem à Itália e o seu interesse na política de imigração do governo de extrema direita de Giorgia Meloni também alimentaram vozes contrárias em seu próprio partido.

"O debate não é sobre o valor dos imigrantes. Isso é tóxico e devemos superar. Trata-se de controle da migração, sempre foi uma questão de controle. É nisso que as pessoas votaram repetidas vezes", acrescentou.

- "Construir um novo Reino Unido" -

As informações sobre os presentes recebidos por membros do Executivo, dados por doadores do partido geraram muitas críticas para o governo.

Todos os presentes foram declarados, sem infringir as normas parlamentares, mas depois veio à tona que o governo advertiu a população que se prepare para fazer esforços.

Starmer, por exemplo, recebeu presentes desde 2019, como roupas e ingressos para jogos de futebol e shows, estimados em US$ 141.000 (R$ 782 mil).

Segundo uma pesquisa de opinião publicada nesta terça pelo YouGov, 23% dos britânicos que tinha esperanças em relação ao novo governo estão decepcionados.

Após seu discurso, Starmer deve voar para Washington para participar na Assembleia Geral da ONU, em meio à intensificação dos conflitos no sul do Líbano entre Israel e o movimento islamista pró-iraniano Hezbollah.  

O primeiro-ministro britânico também fez um apelo, nesta terça, à "moderação" e à "desescalada", reiterando que o Reino Unido defende um cessar-fogo "imediato" na Faixa de Gaza, palco de uma guerra entre o Exército israelense e o Hamas, e voltando a exigir a libertação dos reféns detidos pelo movimento islamista palestino.

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