O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, acusou nesta quarta-feira (25) na ONU o seu homólogo russo Vladimir Putin de planejar ataques contra suas usinas nucleares, ao mesmo tempo em que afirmou que "jamais" aceitará uma paz imposta pela Rússia, quando já se completam dois anos e meio de guerra.

"Recentemente recebi outro relatório alarmante de nosso serviço de inteligência. Parece que agora Putin planeja atacar nossas usinas nucleares e infraestrutura, para desconectar essas instalações da rede de energia", denunciou Zelensky em seu discurso na Assembleia Geral.

"Qualquer incidente crítico no sistema de energia poderia causar um desastre nuclear. Um dia assim nunca deve chegar. Moscou precisa entender isso, e isso depende em parte de sua determinação e da pressão que se exerce sobre o agressor", acrescentou.

Enquanto a Rússia prossegue com seus bombardeios diários ao território ucraniano, Zelensky afirmou nesta quarta-feira que seu país "jamais" aceitará uma paz imposta de fora.

"Nós ucranianos nunca aceitaremos - nunca aceitaremos - por que alguém no mundo poderia acreditar que um passado colonial tão brutal, que não tem continuidade hoje, poderia se impor agora na Ucrânia?", questionou Zelensky ao questionar as motivações da China e do Brasil para promover conversas com a Rússia.

Na terça-feira, diante do Conselho de Segurança, o presidente ucraniano, ciente de que o apoio ao seu país pode estar se esgotando, afirmou que "só se pode forçar a Rússia a fazer a paz, e isso é exatamente o que devemos fazer: forçar a Rússia a fazer a paz".

Até agora, os Estados Unidos lideraram uma ampla coalizão de apoio militar e financeiro à Ucrânia, mas a posição de Washington pode mudar após as eleições presidenciais de 5 de novembro.

A declaração de Zelensky foi rapidamente rejeitada por Moscou. "A postura de tentar forçar a Rússia a fazer a paz é um erro absolutamente fatal", disse nesta quarta-feira o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.

Zelensky deve apresentar na quinta-feira em Washington ao seu homólogo americano, Joe Biden, e ao Congresso, os detalhes de um "plano de vitória" que, segundo ele, colocaria fim à invasão russa ao seu país, iniciada em fevereiro de 2022.

- "Graves problemas" -

Poucos detalhes desse plano são conhecidos, mas para o líder ucraniano trata-se, sobretudo, de fortalecer seu país, para que possa negociar com firmeza.

"Uma Ucrânia forte forçará Putin a sentar-se à mesa de negociações", declarou em uma entrevista à revista New Yorker publicada no domingo.

Concretamente, Kiev pede a seus aliados ocidentais mais sistemas de defesa antiaérea e mísseis de longo alcance para defender melhor suas cidades dos ataques diários russos.

Em seu discurso de terça-feira na Assembleia Geral, Biden declarou que a Rússia havia falhado em sua invasão à Ucrânia e instou a ONU a manter seu apoio a Kiev até que os ucranianos saiam vitoriosos.

O objetivo é garantir que "a Ucrânia esteja na posição mais forte possível antes da primavera" do hemisfério norte, assegurou em uma entrevista à AFP o ministro britânico de Relações Exteriores, David Lammy.

- "À beira do abismo" - 

Mais de 100 chefes de Estado e de Governo sobem nesta semana à tribuna da Assembleia Geral da ONU em Nova York, em um momento em que os conflitos fazem estragos em todo o planeta, especialmente no Líbano e na Faixa de Gaza.

Também se espera nesta quarta-feira o presidente francês, Emmanuel Macron, que na véspera pediu em uma reunião ao seu homólogo iraniano, Masud Pezeshkian, que "apoie uma desescalada geral" no Oriente Médio, segundo o Palácio do Elíseo.

O principal foco de atenção desta reunião diplomática anual é a situação explosiva nessa região.

Vários líderes, começando por Biden, pediram na terça-feira que se evite a todo custo uma "guerra total" no Líbano, que está, segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, à "beira do abismo".

A pedido da França, o Conselho de Segurança tem previsto debater a crise em uma reunião de emergência na tarde desta quarta.

Nas últimas horas, Israel realizou novos bombardeios contra o Hezbollah no Líbano, de onde também foram realizados contra-ataques. Na segunda-feira, uma ofensiva israelense deixou mais de 550 pessoas mortas, intensificando o temor de uma conflagração regional quase um ano após o início da guerra em Gaza.

Foi o maior número de mortos em um único dia no Líbano desde o final da guerra civil (1975-1990).

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