Por Robbie COREY-BOULET

A morte do líder do Hezbollah, Hasan Nasrallah, na sexta-feira (27), em um bombardeio aéreo, foi feito da espionagem israelense que culminou vários dias de operações e mostrou até que ponto se infiltrou no movimento libanês pró-Irã, segundo especialistas.



Veja o que se sabe sobre como Israel mobilizou os seus recursos de inteligência para efetuar o ataque.



- A preparação -


O Hezbollah começou a disparar foguetes contra o norte de Israel um dia após o ataque do seu aliado Hamas ao sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a atual guerra na Faixa de Gaza.



A violência transfronteiriça entre Israel e o movimento islamista libanês aumentou acentuadamente em 17 de setembro, com ataques de sabotagem contra pagers usados pelo Hezbollah, seguidos um dia depois por explosões dos walkie-talkies do grupo.



As explosões, pelas quais Israel não assumiu a responsabilidade, mataram pelo menos 39 pessoas, feriram quase 3.000 e "devolveram as comunicações do Hezbollah à Idade da Pedra", escreveu Robert Satloff do Instituto de Washington para a Política do Oriente Médio.

 

 





Alguns analistas consideram que a operação reflete os grandes avanços da unidade militar 8200, um grupo israelense de inteligência de sinais, na interceptação dos dispositivos de comunicação do Hezbollah.



O próprio Nasrallah alertou em fevereiro: "O celular que você tem em mãos é um dispositivo espião". Isso motivou o uso de pagers, que depois viraram armas.



No entanto, o porta-voz militar israelense, Nadav Shoshani, disse aos jornalistas na sexta-feira que a coleta de informações que levou ao assassinato de Nasrallah durou vários anos.



"Usamos informações que coletamos durante anos, tínhamos informações em tempo real e realizamos esse ataque", disse ele.

 



A coronel reformada Miri Eisen, do Instituto Internacional de Contraterrorismo da Universidade Reichman, em Israel, também observou que o ataque foi o resultado de um extenso trabalho.



"As capacidades israelenses em relação ao Hezbollah mostram a profundidade da infiltração de sua inteligência nas linhas do Hezbollah", disse ele.



Eisen observou que "estas não são coisas que foram inventadas nos últimos 11 meses", quando o Hezbollah começou a atacar o norte de Israel.


- O ataque -

 


Autoridades israelenses revelaram que Nasrallah e outros líderes do Hezbollah se reuniram na sexta-feira no "quartel-general" do grupo em seu principal reduto, nos subúrbios ao sul de Beirute.



A área foi bombardeada por Israel enquanto este intensificava a sua campanha contra o Hezbollah.



Pouco antes das 18h30 (12h30 no horário de Brasília), fortes explosões foram ouvidas na capital libanesa.



O The Wall Street Journal informou que Israel planejou durante meses usar "uma série de explosões programadas" no bunker subterrâneo onde Nasrallah estaria localizado e "cada explosão dava origem à seguinte".



Mas o jornal também citou autoridades israelenses que afirmaram que o momento do ataque "foi oportunista, ocorrendo depois que a inteligência israelense tomou conhecimento da reunião horas antes de sua realização".



Coincidiu com a Assembleia Geral da ONU, o que significa que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, estava fora de Israel.



Posteriormente, seu gabinete publicou uma foto do momento em que ele aprovou o ataque.



Israel não detalhou o tipo de armas utilizadas.



No entanto, o The New York Times informou que, de acordo com uma análise de um vídeo militar, o avião usado estava "carregado com pelo menos 15 bombas de 2.000 libras".



Funcionários de alto escalão disseram ao jornal que "mais de 80 bombas foram lançadas em poucos minutos para matar" Nasrallah.



- A sequela -

 


Os bombardeios deixaram crateras de até cinco metros, segundo fotógrafos da AFP.



O especialista em Oriente Médio James Dorsey classificou o ataque como um golpe de inteligência "muito sofisticado".



"Isso não demonstra apenas uma capacidade tecnológica significativa, mas também o quão profundamente Israel penetrou no Hezbollah", explicou.



Heiko Wimmen, do International Crisis Group (ICG), disse que os efeitos a longo prazo nas operações do Hezbollah não são claros.



"Embora o Hezbollah esteja muito bem institucionalizado para entrar em colapso ao ser decapitado, a perda chocante dos seus recursos humanos terá inevitavelmente um efeito degradante, mais cedo ou mais tarde", disse Wimmen, diretor do ICG para o Iraque, Síria e Líbano.



Segundo ele, isso poderia enfraquecer a sua capacidade de continuar a sua campanha de foguetes contra Israel.

 

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As autoridades israelenses comemoram a morte de Nasrallah enquanto decidem se lançarão um ataque terrestre contra o Hezbollah.



No sábado, o Exército distribuiu uma transcrição que cita o comandante do esquadrão que bombardeou Nasrallah dizendo que "atingiremos todos, em qualquer lugar".

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