Melania Trump sinaliza apoio ao direito ao aborto -  (crédito: BBC)

Melania Trump sinaliza apoio ao direito ao aborto

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Melania Trump parece ter se juntado a um grande grupo de ex-primeiras-damas americanas do partido Republicano que se manifestaram em favor do direito ao aborto — uma visão contrária ao de seu marido, o ex-presidente e candidato à Casa Branca Donald Trump.

Em um vídeo curto promovendo um livro seu que ainda está para ser lançado, Melania Trump expressou apoio à liberdade "individual das mulheres", que ela diz ser um "direito essencial que todas as mulheres possuem desde o nascimento".

O vídeo foi divulgado um dia depois de um jornal divulgar supostos trechos de seu livro de memórias ainda não lançado — no qual ela teria manifestado uma posição ainda mais clara em favor ao direito ao aborto.

 

 

A posição de Melania parece ser oposta à de seu marido, que costuma dizer ter sido responsável pela reversão da decisão judicial Roe v Wade, que acabou com o direito constitucional federal ao aborto.

Mas segue uma tradição de décadas de primeiras-damas republicanas que — desde a decisão de Roe v Wade em 1973 — dizem que acesso legal ao aborto é algo a ser protegido.

 

 

Em 1975, enquanto ainda estava na Casa Branca, a primeira-dama Betty Ford disse que a decisão Roe v Wade era uma "grande, grande decisão".

Nancy Reagan esperou até Ronald Reagan deixar o cargo para se manifestar publicamente que "acredita na escolha da mulher". Mas sua posição sobre o tema já era conhecida quando ela estava na Casa Branca.

Barbara Bush, esposa de George HW Bush, e sua cunhada, Laura Bush, esposa de George W. Bush, também tiveram a mesma postura, e só revelaram suas opiniões depois que os maridos deixaram a Casa Branca.

"Eu acho que é importante que [o aborto] siga sendo legalizado, porque eu acho que é importante para as pessoas, por motivos médicos e outros motivos", disse Laura Bush em entrevista em 2010, em que ela promovia seu livro de memórias.

 

 

Melania Trump teve uma abordagem diferente.

Em um vídeo preto-e-branco publicado em sua conta no X na quinta-feira (3/10), Melania Trump disse que "não existe lugar para um acordo quando se trata de um direito essencial que todas as mulheres possuem desde o nascimento: liberdade individual".

"O que meu corpo, minha escolha realmente significam?", diz Melania.

No dia anterior, o jornal britânico The Guardian havia publicado um trecho de seu novo livro — Melania — que será lançado na semana que vem, no dia 8 de outubro.

No trecho citado pelo Guardian, ela escreve: "É indispensável garantir que mulheres tenham autonomia em decidir sua preferência para ter crianças, baseado nas suas próprias convicções, livres de qualquer intervenção ou pressão de governo".

 

 

"Por que qualquer pessoa, outra que a própria mulher, deveria ter o poder de determinar o que ela faz com o próprio corpo? O direito fundamental de uma mulher à liberdade individual, à sua própria vida, dá a ela a autoridade para pôr fim à sua gravidez, se ele assim desejar", escreve Melania.

"Restringir o direito de uma mulher a escolher entre terminar uma gravidez indesejada é o mesmo que negar a ela o controle sobre seu próprio corpo. Eu venho trazendo comigo essa crença ao longo de toda minha vida adulta."

A jornalista e escritora Kate Andersen Brower disse estar "chocada" com os comentários da ex-primeira-dama.

"Tão chocada que quis verificar se é verdade. Ela sempre esteve alinhada ao seu marido, então quanto a esse assunto, como ela passou todos esses anos assistindo a ele alterar o curso de algo que parece ser tão importante para ela?"

Mais do que qualquer outra primeira-dama, diz Brower, os comentários de Melania parecem ser completamente opostos às opinições de seu marido.

Além disso, ela é a única primeira-dama até agora que divulgou sua opinião sobre aborto enquanto seu marido ainda busca eleição.

 

 

Brower acredita que o momento escolhido para divulgar sua posição sugere que existe algum lado político nessa decisão.

"Não é completamente impossível pensar que isso foi feito intencionalmente antes da eleição, porque pode agradar aqueles Estados pêndulo onde eleitores estão insatisfeitos com a revogação de Roe v Wade. Talvez eles possam pensar que ele [Trump] está suavizando sua opinião sobre aborto."

Mas a estrategista republicana Rina Shah tem uma visão diferente.

A noção de que Melania está tentando ajudar seu marido "não fecha com a Melania que conhecemos", diz ela.

"A essa altura do campeonato, isso não muda nada, e ela sabe disso", diz Shah. "Algumas cédulas [para voto postal] até já foram enviadas em alguns lugares. É simplesmente tarde demais."

Acesso ao aborto é um dos temas chave da eleição do próximo mês — e é considerado um ponto fraco do partido Republicano, que tem tido dificuldades para conciliar as posições de sua base conservadora, que é contra o direito ao procedimento, com a do eleitorado mais amplo, que é a favor.

Ao longo da campanha de 2024, a posição de Donald Trump vem mudando.

Nesta semana, o candidato disse pela primeira vez que vetaria qualquer proibição federal ao aborto no caso remoto de isso ser aprovado pelo Congresso.

A BBC entrou em contato com a campanha de Trump para esclarecer o assunto.

A candidata democrata Kamala Harris vem tentando se beneficiar da posição de Trump para ganhar votos junto ao eleitorado.

Ela retrata Trump como uma ameaça à autonomia das mulheres, por causa da derrubada da decisão Roe v Wade, que aconteceu depois que Trump indicou uma maioria conservadora na Suprema Corte americana.

"Infelizmente para mulheres nos EUA, o marido da Senhora Trump discorda firmemente dela e ele é o motivo pelo qual uma em cada três mulheres americanas vive sob uma Proibição ao Aborto de Trump, que ameaça sua saúde, sua liberdade e suas vidas", disse Sarafina Chitika, porta-voz da campanha de Kamala Harris e Tim Walz, à BBC.