O ex-presidente boliviano Evo Morales, envolvido em um escândalo por supostamente ter abusado de uma menor durante seu mandato, foi intimado a depor na próxima quinta-feira pelo Ministério Público em uma investigação por "estupro e tráfico de pessoas", anunciou a instituição nesta segunda-feira (7).

"Determinou-se a intimação das três pessoas acusadas neste caso: o senhor Evo Morales e os pais da vítima, para a quinta-feira, 10 de outubro, no Ministério Público, para que apresentem sua declaração informativa" no departamento de Tarija, informou o chefe do MP, Juan Lanchipa. 

O líder indígena, de 64 anos, que se tornou o principal opositor do governo de seu ex-ministro, Luis Arce, afirmou no X que é vítima de um "lawfare" (perseguição judicial) e o atribuiu à "traição" do atual presidente, com quem disputa a indicação da situação à Presidência para as eleições de 2025.

"Abriram simultaneamente quatro processos judiciais contra nós, todos com ações forçadas para buscar nossa apreensão", disse Morales, sem mencionar a intimação do MP.

O escândalo remonta a 2015, quando Morales era presidente. Naquele ano, segundo a investigação do MP, o então presidente se envolveu com uma menor de 15 anos, com quem teve uma filha em 2016.

Morales, que esteve à frente do Executivo entre 2006 e 2019, qualificou a denúncia como "mais uma mentira" e acrescentou que em 2020 já tinha sido investigado pelos mesmos fatos e que "foi demonstrado que não houve nada".

No entanto, o novo expediente foi aberto pela promotora do departamento de Tarija Sandra Gutiérrez. Ela determinou a apreensão de Morales em 26 de setembro, mas a ordem foi anulada na quarta-feira por uma juíza que deferiu um recurso judicial a favor do ex-presidente.

O promotor Lanchipa afastou Gutiérrez de suas funções por "conduta negligente", mas a justiça a reconduziu ao cargo e caberá a ela tomar o depoimento de Morales, segundo o chefe do Ministério Público.

Além do crime de estupro (conjunção carnal com menores de 14 a 18 anos), Morales é investigado agora por tráfico de pessoas.

Segundo o expediente judicial, os pais da menor a inscreveram na "guarda juvenil" de Morales "com a única finalidade de escalar politicamente e obter benefícios (...) em troca da sua filha caçula".

Na Bolívia, as penas por vários crimes não são cumulativas. Se for considerado culpado em um eventual julgamento, Evo Morales enfrentaria pena máxima de 20 anos de prisão, que é a fixada pelas normas para o crime mais grave, neste caso o de tráfico de pessoas.

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