Uma ONG de investigação revelou nesta terça-feira (8) o modus operandi dos rebeldes do Iêmen, aliados do Irã, em seus ataques a navios comerciais no Mar Vermelho, um processo muito organizado e centralizado por uma entidade obscura.

Por trás dos disparos de mísseis, ataques de drones e outras operações a partir das embarcações dos huthis, está o Centro de Coordenação de Operações Humanitárias (HOCC), liderado por uma pessoa muito próxima a Mahdi al Mashat, chefe de Estado de fato nos territórios controlados pelos insurgentes no Iêmen desde 2018.

O órgão, registrado na capital Sanaã, foi criado em fevereiro, como resposta à decisão dos Estados Unidos de voltar a classificar os huthis como grupo "terrorista".

O HOCC "participa provavelmente da coordenação da identificação e dos ataques", estima a ONG suíça InPact (Investigações com impacto), prevendo que a entidade busca se consolidar "a longo prazo".

Os rebeldes atacam há meses navios comerciais que, em sua opinião, têm ligação com Israel, Estados Unidos ou Reino Unido.

Afirmam que agem por solidariedade aos palestinos da Faixa de Gaza, em um contexto de guerra entre Israel e o movimento palestino Hamas.

A organização é liderada por Ahmed Mohamed Yahya Hamed, conhecido como Ahmed Hamed, "uma figura influente dos huthis, próxima a Mahdi al Mashat, presidente do Conselho Supremo Político dos houthis, e da forças armadas", afirma a InPact.

Segundo o decreto de criação citado pela ONG, o HOCC deve "atenuar os efeitos e as repercussões humanitárias (...) no cenário das operações militares (...) mediante a adesão aos ensinamentos islâmicos e o respeito ao direito internacional humanitário".

Os ataques dos rebeldes tiveram um grande impacto no tráfego marítimo dessa área, crucial para o comércio global.

Para combater isso, os Estados Unidos criaram uma coalizão internacional e atacaram alvos insurgentes no Iêmen, em alguns casos com a ajuda do Reino Unido.

- Israel na mira -

A investigação revela como o HOCC se atribui o direito de designar as embarcações autorizadas a cruzar a zona, através do estreito de Bab el Mandeb.

O centro "institucionaliza de fato a guerrilha marítima dirigida pelo grupo armado", explica o relatório. "Disponibiliza aos navios meios de comunicação diretos com a organização (rádio, número de telefone e e-mails)."

A InPact publicou uma mensagem dos huthis enviada em março à Organização Marítima Internacional (OMI), a agência da ONU responsável pela segurança marítima.

O documento proíbe a navegação para quatro categorias de companhias marítimas: aquelas que pertencem, são geridas ou dirigidas por Israel, Estados Unidos ou Reino Unido, assim como aquelas de navios que se dirigem a um dos portos de Israel.

Uma empresa que não se encaixa em nenhuma dessas categorias pode navegar livremente, diz o documento, que inclui um e-mail para contato em caso de dúvidas.

O HOCC sugere à OMI que informe proprietários, operadores e seguradoras.

Uma companhia marítima internacional confirmou à AFP, sob anonimato, ter recebido várias mensagens dos huthis, que alertam principalmente para não passar pela área, sob pena de represálias. "Mas de forma muito esporádica, apenas uma ou duas vezes, e a última foi há oito meses”, acrescenta.

O relatório da InPact também destaca o poder do chefe do HOCC na hierarquia huthi.

Ahmed Hamed "é conhecido como ‘ra'is al ra'is’, o 'presidente do presidente', já que as decisões estratégicas do governo huthi não podem ser tomadas sem sua aprovação", aponta a InPact.

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