Uma gigantesca máquina hidráulica chamada Wanda evitou que centenas de toneladas de lixo acabassem nos manguezais próximos à capital do Panamá.
Todos os tipos de resíduos descem pelos rios próximos e, se nada os impedir, vão parar na costa desta cidade situada às margens do Pacífico.
Para combater essa poluição, uma ONG colocou para funcionar Wanda, uma máquina que capta resíduos e separa o que pode ser reciclado.
"Capturamos 256 mil quilos de resíduos que estariam no mangue e no mar se não fosse Wanda" desde que começou a operar em setembro de 2022, disse à AFP Laura González, diretora executiva da Fundação Maré Verde, responsável pelo projeto.
"É muito" lixo, afirmou González. "Acredito que ninguém quer viver cercado por lixo e ninguém quer ver o rio nestas condições", acrescentou.
O lixo é levado pela corrente do rio San Juan até uma barreira que atravessa o canal. Lá, vários trabalhadores separam os resíduos, que são encaminhados por uma longa esteira até um enorme contêiner para serem reciclados.
A operação acontece às margens deste rio localizado em meio a uma área arborizada do excluivo bairro de Santa María.
A energia que alimenta Wanda é totalmente verde: uma roda hidráulica e painéis solares.
Por enquanto, é o único rio que possui esse sistema.
- "Desastre inaceitável" -
Esta área costeira de mangue é um ponto de descanso vital para centenas de milhares de aves na sua rota migratória, mas está ameaçada pela poluição e pelo crescimento urbano.
Os especialistas estimam que 30% do lixo da Cidade do Panamá não é coletado e que cerca de 100 mil toneladas de lixo acabam no mar todos os anos em todo o país.
Quando chove, a corrente arrasta o lixo jogado nas margens dos rios, algo comum nos bairros desta capital de 1,4 milhão de habitantes.
"Trabalhamos muito todos os dias, principalmente para que esses resíduos não cheguem à orla da praia", disse à AFP Ezequiel Vargas, líder do grupo que opera Wanda. "Infelizmente o lixo é constante todos os dias, mesmo que não chova sempre, parte dele chega aqui", acrescentou.
Na Cidade do Panamá e arredores, a crise na coleta de lixo é endêmica. Nas ruas há pilhas de lixo não recolhido há dias, enquanto no litoral se acumulam todos os tipos de lixo.
As autoridades reconhecem o problema: "O desastre ambiental dos rios é inaceitável, não podemos continuar poluindo nossos rios e mares", disse em julho ao assumir o cargo o ministro do Meio Ambiente, Juan Carlos Navarro.
- "Uma loucura" -
Segundo um relatório da ONU Meio Ambiente, cerca de 2.300 toneladas de lixo são geradas por dia na Cidade do Panamá, das quais 30%, principalmente plástico, vão parar nos rios, na costa e no mar.
Esse mesmo relatório destaca que 61.500 toneladas de resíduos sólidos das cidades panamenhas são lançados ao mar todos os anos através de esgotos. Há outras 40.657 toneladas de resíduos sólidos procedentes da zona rural que descem rios e córregos.
Entre o lixo que chega a Wanda, destacam-se garrafas plásticas e recipientes de shampoo, embora também sejam observadas bolas de futebol, brinquedos, recipientes de alimentos e até geladeiras.
"É uma loucura, esses dias encontramos um unicórnio de plástico, realmente acho que poderíamos criar uma galeria nesse lugar", disse González.
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