Um documentário favorável à conquista espanhola, propaganda provocativa, reações à flor da pele: Espanha e México travam uma batalha pela memória, envolvidos em uma discórdia diplomática neste 12 de outubro, aniversário da chegada de Cristóvão Colombo às Américas em 1492. 

Nesta semana, no México, uma centena de pessoas se reuniram para a apresentação do documentário "Hispanoamérica, canto de vida y esperança", que enaltece o trabalho dos conquistadores do novo mundo. 

A tese do filme, gravado no México, Peru, Equador e Bolívia, é simples: a Espanha civilizou uma região bárbara por meio da religião e da música e com o legado de grandeza da arquitetura barroca.

O diretor espanhol José Luis López-Linares "oferece uma visão renovada" da conquista, afirma a promoção do documentário, que estreia na próxima quinta-feira em 80 cinemas do México. 

"É um lixo panfletário, manipulador e racista, que busca distorcer a história", disse à AFP o jornalista cultural José Juan de Ávila, depois de ter sido silenciado pelos gritos do público simpático à tese do filme durante a exibição.

O documentário não menciona nenhum aspecto negativo da colonização: indígenas massacrados, mortos pela varíola, convertidos à força ao cristianismo ou reduzidos ao trabalho forçado.

A obra "é construída sobre os fundamentos ideológicos criados na sua época pelo franquismo, isto é, pela apologia desaforada e acrítica do 'trabalho da Espanha nas Américas'", afirmou o historiador espanhol Carlos Martínez Shaw quando o filme estreou na Espanha em abril em 59 salas de cinema. O rei Felipe VI assistiu à estreia em Madri. 

O documentário é apresentado em pleno 12 de outubro, feriado nacional na Espanha, mas dia da "diversidade cultural" em países latino-americanos como México e Colômbia, inclusive dia da "resistência indígena".

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