Yahya Sinwar se forjou nas prisões israelenses e no aparato de segurança do Hamas antes de se tornar líder do movimento islamista palestino. Israel, que anunciou sua morte nesta quinta-feira (17), o considera um dos arquitetos do ataque de 7 de outubro de 2023 no sul do país, que desencadeou a guerra em Gaza.

Sinwar “é um homem morto”, declararam as autoridades israelenses após o ataque. Seu rastreamento demorou mais de um ano para chegar ao fim.

"Depois de uma busca de um ano, ontem (quarta-feira), 16 de outubro de 2024, soldados do exército israelense eliminaram Yahya Sinwar, líder da organização terrorista Hamas, durante uma operação no sul da Faixa de Gaza", informou o exército em um comunicado.

Sinwar, de 61 anos, havia sucedido em agosto à frente do Hamas, que governa Gaza desde 2007, Ismail Haniyeh, assassinado em Teerã em um atentado que as autoridades da República Islâmica atribuem a Israel.

Mas desde 2017 já liderava o Hamas na Faixa de Gaza e é considerado uma das mentes por trás do ataque de 7 de outubro de 2023, quando centenas de milicianos palestinos atacaram kibutzim, bases militares e uma festa rave em Israel, no pior atentado contra civis desde sua fundação, em 1948.

Naquele dia, 1.206 pessoas morreram e 251 foram feitas reféns, segundo uma contagem com base em dados oficiais israelenses.

"Foi a estratégia dele, foi ele quem organizou a operação" provavelmente durante um ou dois anos, explicou à AFP Leila Seurat, pesquisadora do Centro Árabe de Pesquisa e Estudos Políticos (Carep), em Paris.

Esse homem simples e de cabelos brancos "impôs sua agenda para mudar o equilíbrio de poder no terreno e surpreendeu a todos", apontou a especialista.

Ele, que foi qualificado como "rosto do diabo" e declarado "homem morto" pelo exército israelense não aparecia em público desde outubro do ano passado.

"É o homem de segurança por excelência" que, com um "carisma de líder", "toma decisões com grande calma", disse à AFP Abu Abdallah, um ex-companheiro de prisão, em 2017, quando Sinwar assumiu a liderança do Hamas em Gaza.

- Radical e pragmático -

Em 1987, quando a primeira Intifada (levante contra a ocupação israelense) eclodiu em um campo de refugiados no norte da Faixa, Sinwar, nascido em Khan Yunis, se juntou ao Hamas, que acabara de ser criado.

Aos 25 anos, já dirigia a unidade de inteligência do Hamas que punia os "colaboradores" palestinos com Israel.

Em 1988, fundou o Majd, o serviço de segurança interna do Hamas. Um ano depois, foi preso e se tornou líder dos prisioneiros.

Apesar de ter sido condenado várias vezes à prisão perpétua, foi libertado em 2011 junto com mil outros detidos por um acordo com Israel em troca da libertação de Gilad Shalit, um soldado israelense feito refém pelo Hamas durante cinco anos.

Sinwar viu Israel eliminar seus mentores, como o xeque Ahmed Yassin e Salah Shehade, fundador das brigadas Ezzedin Al Qasam, o braço armado do Hamas.

Seu nome estava na lista americana de "terroristas internacionais" e ele foi alvo de múltiplas tentativas de assassinato.

Como chefe do Hamas em Gaza, promoveu uma estratégia "radical em nível militar e pragmática no aspecto político", apontou Seurat. “Não é favorável a força pela força, mas sim a força para empurrar [os israelenses] à negociação”, acrescentou.

- Estrangulado "com um keffiyeh" -

A mídia israelense publicou trechos de seus interrogatórios. Em um deles, falava sobre o sequestro de um "traidor": "O levamos para o cemitério de Khan Yunis (...), o coloquei em uma sepultura e o estrangulei com um keffiyeh [tradicional lenço palestino] (...) Estava certo de que sabia que merecia morrer".

No campo político, Sinwar sonhava com um Estado palestino unificando todos os territórios ocupados: a Faixa de Gaza, a Cisjordânia (parcialmente administrada pela Autoridade Palestina de Mahmud Abbas) e Jerusalém Oriental.

"Ele deixou claro que puniria qualquer um que tentasse impedir a reconciliação com o Fatah” (o partido de Abbas), recorda o Conselho Europeu de Relações Exteriores.

Seu antecessor incentivou esforços para apresentar uma face moderada do Hamas ao mundo, mas Sinwar preferiu colocar a questão palestina em destaque por meios mais violentos.

Em resposta ao ataque de 7 de outubro, Israel lançou uma ofensiva implacável em Gaza que já matou mais de 42.400 pessoas, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

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