A manifestação de apoiadores de Evo Morales, investigado criminalmente por estupro, agravou a crise de combustíveis na Bolívia, com centenas de caminhões-tanque parados após cinco dias de bloqueios contra a possível prisão do ex-presidente.
"Temos 570 caminhões-tanque carregados com combustível em diversos pontos de bloqueio", informou nesta sexta-feira (18) o vice-presidente de operações da estatal petrolífera YPFB, Ariel Montaño. Isso impediu a distribuição de "quase 20 milhões de litros" de diesel e gasolina, acrescentou.
Com pedras e fogueiras, os manifestantes bloqueavam o trânsito em 14 trechos das estradas que conectam o centro da Bolívia, na altura do departamento de Cochabamba, a La Paz e Santa Cruz, regiões mais populosas do país. Na última segunda-feira, quando começou o protesto, havia quatro pontos bloqueados em Cochabamba, de acordo com a estatal Administradora Boliviana de Estradas (ABC).
"É terrível o que estamos passando, são cinco dias sem conseguir trabalhar. Nossos companheiros que estão nas estradas já não têm nem comida", disse à AFP Víctor Tarqui, líder da Confederação de Motoristas da Bolívia.
Os manifestantes enfrentam esporadicamente a polícia, que tentou removê-los com gás lacrimogêneo. Três policiais ficaram feridos ontem na divisa entre Cochabamba e Santa Cruz, indicou a polícia. Autoridades também relataram 15 pessoas detidas desde o início dos protestos.
Desde o ano passado, a Bolívia tem importado menos combustível, devido à queda da receita com a venda de gás, sua maior fonte de ganhos até 2020. Se "o governo não intervir" e desbloquear as vias, "vamos ter que paralisar todo o país", disse Tarqui.
O presidente Luis Arce advertiu ontem que não permitiria que a Bolívia fosse "incendiada" nas mãos dos apoiadores de Morales, seu antigo aliado, hoje adversário na luta pela candidatura presidencial do partido governista em 2025.
O ex-presidente (2009-2016) pode ser preso por um suposto caso de estupro e tráfico de pessoas. Ele teria se relacionado em 2015 com uma menor de 15 anos e tido uma filha no ano seguinte.
Morales afirma que se trata de "mais uma mentira" orquestrada pelo governo para "proibi-lo" de concorrer. Segundo ele, o caso já foi investigado e arquivado pela Justiça, em 2020.
jac/vel/mar/ic/lb