O Irã ameaça uma resposta contundente se Israel responder ao seu ataque com mísseis no início do mês, ao mesmo tempo que multiplica iniciativas diplomáticas para evitar uma guerra regional total. 

A República Islâmica lançou 200 mísseis contra Israel em 1º de outubro, em resposta aos assassinatos por Israel do general iraniano Abbas Nilforushan e do chefe do Hezbollah libanês, Hassan Nasrallah, em setembro, em Beirute. 

O ataque também foi uma retaliação pelo assassinato em julho do chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, atribuído a Israel. 

O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, prometeu dar a essa onda de mísseis uma resposta "mortal, precisa e surpreendente". 

O chefe dos Guardiões da Revolução (milícia ideológica do regime iraniano), Hosein Salami, alertou que seu país responderá com um ataque "doloroso" se Israel cumprir suas ameaças. 

O chefe do Estado-Maior do Exército iraniano, Mohamad Baqeri, indicou que "o inimigo sionista deveria saber que se aproxima do fim da sua vida miserável" e afirmou que Israel é um "tumor cancerígeno". 

O Irã não reconhece Israel desde 1979, quando uma revolução derrubou a monarquia do xá apoiado pelos Estados Unidos. Desde então, a questão palestina tornou-se um pilar da sua política externa. 

Tanto o movimento islamista palestino Hamas como o Hezbollah libanês fazem parte do "Eixo da Resistência" a Israel, que reúne formações armadas apoiadas pelo Irã.

- Duas posturas não "contraditórias"  -

O chanceler iraniano, Abbas Araqchi, iniciou uma viagem que busca, por meio da diplomacia, evitar que o conflito se espalhe pela região. 

O chefe da diplomacia iraniana visitou nove capitais em duas semanas e conversou na terça-feira com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. 

"Não podemos dizer que estas posições [do Irã] sejam contraditórias", disse à AFP Ahmad Zeidabadi, especialista em relações internacionais radicado em Teerã. 

Araqchi "repete as palavras dos militares" de que se Israel atacar, "o Irã dará uma resposta dolorosa", disse ele. 

O especialista lembrou que Araqchi disse que, por um lado o Irã está "totalmente preparado para a guerra", por outro busca a "desescalada". "A questão é por qual mecanismo", acrescentou Zeidabadi. 

Araqchi visitou Beirute, capital libanesa, uma semana após a morte de Nasrallah. O ministro viajou então para Damasco, onde se encontrou com seu homólogo sírio e com o presidente Bashar al Assad, aliado próximo de Teerã.

- "Objetivos diferentes" -

Estas visitas permitiram a Teerã "reiterar o compromisso do Irã em apoiar seus aliados no Eixo da Resistência", disse à AFP Hamidreza Azizi, analista do Conselho do Oriente Médio sobre Assuntos Mundiais, com sede em Berlim. 

Araqchi também viajou à Arábia Saudita, cujas relações com o Irã se aproximaram no ano passado, e para o Catar, Iraque e Omã, mediador das negociações indiretas entre Irã e Estados Unidos. 

Depois foi à Jordânia, que mantém relações difíceis com Teerã, e ao Egito, que recebeu um chanceler iraniano pela primeira vez desde 2013. 

Na sexta-feira, Araqchi também esteve na Turquia, onde reiterou que o Irã está "preparado para qualquer situação". 

"O Irã quer que os países árabes se afastem do eixo israelense", disse Zeidabadi. 

Os Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos normalizaram os laços com Israel no marco dos Acordos de Abraão de 2020, apoiados pelos Estados Unidos. 

Azizi afirmou que o Irã busca "objetivos diferentes". Além de reafirmar o apoio de seus aliados, o chanceler iraniano transmitiu "uma combinação de advertência e garantia" a alguns países do Golfo, explicou. 

"O mundo inteiro aguarda a resposta israelense ao ataque iraniano (…) e tem-se falado da possível utilização do espaço aéreo dos Estados árabes" para atacar o Irã, acrescentou Azizi. 

Ao mesmo tempo, Araqchi insistiu que o Irã continua "empenhado" em melhorar as relações com estes países, acrescentou o especialista.

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