A situação se deteriora no Haiti, apesar de alguns avanços políticos e do início da mobilização da missão multinacional de apoio à polícia, lamentou nesta terça-feira (22) a ONU, horrorizada por um ataque "brutal" de gangues que semeiam o caos e a violência no país.
"Lamentavelmente, a situação se agravou" desde julho, afirmou diante do Conselho de Segurança a chefe da missão da ONU no país caribenho, María Isabel Salvador.
Ela lembrou do aumento de deslocados internos, que em setembro eram 700 mil, assim como do processo de transição política iniciado na primavera (do hemisfério norte), que "apesar dos avanços iniciais", enfrenta agora "desafios importantes, que transformaram a esperança em uma profunda preocupação".
"A segurança continua sendo muito frágil, com novos picos de violência aguda", destacou.
Ela denunciou, em particular, o "aterrorizante e brutal" ataque na cidade de Pont-Sondé, que deixou "115 civis mortos e dezenas de feridos" em 3 de outubro. Mencionou também uma série de ataques nos últimos dias na capital, Porto Príncipe, e outros locais bem como a "brutalidade sem precedentes" da violência sexual contra mulheres e meninas.
"Os haitianos continuam sofrendo em todo o país, enquanto as atividades das gangues criminosas se intensificam e se espalham além de Porto Príncipe, semeando o terror e o medo e sobrecarregando o aparato de segurança", insistiu. E "a situação humanitária é ainda pior".
Em seu último relatório, o secretário-geral da ONU, António Guterres, aponta que a polícia, apoiada especialmente pela Missão Multinacional de Assistência à Segurança (MMAS), liderada pelo Quênia, lançou "operações em larga escala contra gangues" na capital, mas ainda tem “dificuldades para manter o controle dessas áreas devido à falta de pessoal e recursos”.
A MMAS, cujo mandato foi renovado no final de setembro por mais um ano, conta atualmente com cerca de 430 policiais e militares, principalmente quenianos, e espera-se a chegada de outros 600 em breve.
A ONU está especialmente preocupada com as crianças, que representam metade dos deslocados e são alvo das gangues.
"Estimamos que as crianças constituam entre 30% e 50% dos membros dos grupos armados. Elas são utilizadas como informantes, cozinheiros, escravas sexuais e forçadas a cometer atos de violência armada", declarou Catherine Russell, chefe do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
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