O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, prometeu nesta segunda-feira (28) "reformas fundamentais" no país, depois que sua coalizão de governo perdeu a maioria legislativa em uma eleição antecipada de resultado desastroso.
"Estamos recebendo um julgamento severo", admitiu Ishiba, 67 anos, que assumiu a liderança do Partido Liberal Democrático (PLD) em 1º de outubro e convocou eleições de maneira imediata.
Diante do resultado ruim, Ishiba declarou nesta segunda-feira à imprensa que adotará "reformas fundamentais de financiamento e política".
O canal estatal NHK e outros meios de comunicação informaram que o PLD, no poder de forma quase ininterrupta desde 1955, perdeu a maioria legislativa pela primeira vez desde 2009.
Ainda pior, as projeções indicam que a coalizão do PLD com seu aliado Komeito não atingiu a meta de Ishiba: 233 cadeiras no Parlamento, que tem 456 representantes.
O PLD teria conquistado 191 cadeiras e o Komeito 24, segundo as projeções divulgadas pela NHK nesta segunda-feira.
- Suspeita, desconfiança -
"O principal fator foi que a suspeita, desconfiança e irritação do povo não foram apagadas em relação à questão do financiamento e da política", acrescentou Ishiba.
A moeda japonesa, o iene, registrou nesta segunda-feira a menor cotação (153,88 ienes por dólar) em três meses, uma consequência do resultado das eleições.
Antes da votação, a imprensa local especulou que, em caso de um resultado como registrado nas urnas, Ishiba poderia renunciar para assumir a responsabilidade da derrota, o que o tornaria o primeiro-ministro mais efêmero do país no pós-guerra.
Agora, Ishiba terá que liderar um governo minoritário ou encontrar novos aliados para a coalizão.
Ele afirmou que permanecerá no cargo para evitar um "vácuo político".
"Não vislumbro formar uma coalizão. Acredito que o nosso ponto de partida deve ser uma discussão rigorosa que nos permita concordar humildemente sobre políticas individuais de legisladores de fora da atual coalizão", disse.
"Mesmo sem conseguir manter a maioria como resultado de um julgamento severo da população, pediremos ao maior número possível de pessoas que cooperem conosco", declarou Shinjiro Koizumi, que era diretor para eleições do PLD.
Koizumi renunciou ao cargo após o anúncio do resultado da votação.
Os eleitores da quarta maior economia do mundo estão insatisfeitos com a inflação e incomodados com o escândalo de financiamento do PLD, razões que contribuíram para derrubar a popularidade do ex-primeiro-ministro Fumio Kishida.
Os números indicam o pior resultado do PLD desde que perdeu o poder em 2009, que o partido recuperou em 2012 com a vitória do falecido ex-primeiro-ministro Shinzo Abe.
Durante a campanha, Ishiba prometeu construir um "novo Japão", revitalizar as regiões rurais decadentes e solucionar a "emergência silenciosa" do declínio populacional do país com medidas voltadas às famílias, como promover o trabalho flexível.
Contudo, ele recuou em seu compromisso de permitir aos casais usar dois sobrenomes distintos e indicou apenas duas mulheres para seu gabinete.
- Oposição dividida -
Ishiba prometeu não apoiar ativamente os candidatos envolvidos no escândalo, mas o jornal Asahi informou que o PLD pagou 20 milhões de ienes (131 mil dólares, 747 mil reais) às delegações locais lideradas por estes dirigentes, o que provocou indignação entre a oposição.
O Partido Democrático Constitucional (PDC), principal força da oposição no Parlamento, aumentou consideravelmente o número de cadeiras no Parlamento, indicou nesta segunda-feira o canal NHK, ao conquistar 143.
Seu líder, o popular ex-primeiro-ministro Yoshihiko Noda, criticou no sábado "as políticas do PLD [que] consistem em implementar rapidamente medidas para aqueles que lhes dão muito dinheiro".
"Mas aqueles que estão em posições vulneráveis, que não podem doar dinheiro, foram ignorados", acrescentou o opositor.
Apesar das críticas, o cientista político Masato Kamikubo, da Universidade Ritsumeikan, aponta que a posição de Noda "é bastante similar à do PLD". "É basicamente um conservador", diz.
Por isso, "o PDC ou Noda podem ser uma alternativa ao PLD. Muitos eleitores pensam assim", acrescentou.
A chegada deste partido ao governo, no entanto, é igualmente "difícil, porque a oposição está muito dividida", explica.
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